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Minha despedida do Autódromo Internacional de Curitiba (que fica em Pinhais).

 


Aconteça o que acontecer, lá não volto mais, é uma questão de encerrar um ciclo.

A tal despedida deveria ter sido na última sexta-feira, quando passei uma tarde inteira revendo amigos, desafetos e revisitando cada cantinho daquele lugar, percorrendo cada metro do pit lane, percorrendo cada box, camarote e até o estacionamento. Eu realmente não saberia calcular quantos quilômetros eu andei por lá durante estes anos, quantas queimaduras de sol e quantos banhos de chuva.

O dia estava lindo, sol, céu azul, poucas nuvens, na pista os monstros da Copa Truck dividiam espaço com os minúsculos HB20 e os modernos carros da GT Sprint Race, esta última lançaria o pacote de inovações de 2022, evento para o qual fui convidado e achei a melhor hora de fazer esta despedida.

Talvez inconscientemente achei que alguém se lembraria que um dia participei do projeto inicial desta categoria, era o ego falando mais alto, esquecendo que estamos tratando antes de mais nada de automobilismo e gratidão é uma palavra que não existe nesse meio e está tudo bem. Bom mesmo é saber que aqueles carros abandonados com aparência de sucata de 2011, os quais viramos noites desmontando e montando, se transformaram nesse evento fantástico. Uma das minhas lembranças mais legais, foi ter a companhia, numa destas noites do próprio Paulo de Tarso, um professor que tenho, na antiga sede da Action Power, gastando latas de spray preto para retocar as estruturas tubulares dos carros, comendo pizza fria e escutando Metálica, se existe cena mais legal no mundo, eu ainda não vivi.

De volta ao evento, sem dúvida a maior novidade não foi o carro, nem suas atualizações de segurança ou muito menos o discreto face lift, mais sim a parceria formada com a Mais Brasil, empresa capitaneada por Calos Col, o Bernie Ecleston brasileiro, pessoa responsável pela Stock Car ser hoje a maior categoria da América do Sul, o que me enche de certeza de que os próximos 10 anos serão extraordinários, mais um bom motivo para eu me “desapegar” também da Sprint Race e guardar apenas as lembranças boas.

Foi estranho estar no AIC depois de dois anos e não ver o Afonso Rangel sorrindo e circulando por lá. Desde o tempo em que ninguém me conhecia ali, era com ele que eu tinha a liberdade de parar e conversar, ouvir suas histórias.

Mais estranho é hoje, ver pessoas que absolutamente me ignoravam, me dar tapinhas nas costas, dizendo que leram o livro ou perguntando como fazer para comprar, de repente, aquele cara que esteve todos estes anos ali, passou a ser alguém relevante? Ah, novamente esqueci que se trata de automobilismo né.

Não consegui fazer com que esta despedida encerrasse na sexta, até me segurei em casa no sábado, mas foi como lutar contra meus instintos, no domingo as 6:45 da manhã lá estava eu cruzando a ponte que passa sobre a pista, fiquei alguns minutos olhando para aquela reta, será que realmente aquilo ali vai virar um condomínio? Tentei imaginar umas casas, prédios, áreas de lazer ou campos de golfe, nada combinou, nada substitui aquela reta, o pinheirinho ou o S de alta, nada.

No domingo, passei o dia com os amigos, acompanhei todas as corridas, quase não fotografei, não entrevistei ninguém, como era o costume, vivi junto com o Djalma Fogaça a alegria de ver o Fabinho fazer um baita terceiro lugar, sim, um prêmio por todo o esforço que o time teve nos últimos dois anos, vivi também a decepção de ver uma mangueira d´agua estourar e lhe tirar o pódio na corrida dois, coisas de corrida.

Revi pessoas queridas e que sempre me trataram com o maior respeito e atenção, o Thiago e o Paulo de Tarso, Felipe Giaffone, Beto Monteiro, Giuliano Losacco e Renato Martins entre outros, mas foi também ali que numa quarta feira de treinos da equipe Sambaíba da antiga Mercedes Benz Challenge, o boçal Wellington Cirino me enrolou por quatro horas e no fim disse que não teria tempo de dar a entrevista que marcamos dias antes. Talvez por isso quando o vi, entendi porque esta seria minha despedida, acho que não só do AIC, mas deste meio tóxico.

Hoje este blog, que aliás não alimento mais e este é um texto EXTRAORDINÁRIO, ficou conhecido a ponto de ser procurado constantemente para publicar textos com estas pitadas de sarcasmo sobre vários assuntos, assuntos que tenho certeza, vocês adorariam saber, mas que não é mais meu foco. Mas no início não era assim, fiz muita matéria usando credencial de convidado de box, por não conseguir ser credenciado, mesmo sendo um jornalista formado. Blogs eram e são discriminados nestes eventos. Certa vez, numa das muitas “invasões de eventos” da Stock Car, eu já não tinha mais desculpas para furar a roleta e acabei entrando com uma caixa cheia de agendas que eu iria distribuir para meus clientes, e acabei usando como pretexto de que faria uma entrega de uma “encomenda” em um dos boxes. Meus clientes ficaram sem agenda, mas eu tive mais um dia maravilhoso no AIC.

Antes de finalizar, só para esclarecer, eu gostaria sim que o Autódromo permanecesse, inclusive lutei muito para isso, percorram este blog e verão que a notícia de quando retiraram as portas dos boxes para vender por quilo, foi minha. Participei de campanhas de assinaturas e muitas outras ações, mas hoje penso diferente, penso que é uma propriedade privada e sendo assim, o dono faz dela o que quer, simples assim.

Desapego, esta é a palavra. O automobilismo corre nas minhas veias, e este automobilismo é maior que qualquer pista, Interlagos não é maior que o automobilismo, nem Monza, Spa ou Indianápolis, pistas podem ser construídas e destruídas, o amor pelo esporte fica.

Saudade? Claro que vamos ter, mas esta saudade será apenas mais uma das histórias de box, assim é a vida, é melhor se acostumar.                         

 


Comentários

  1. Infelizmente perderemos o nosso "quintal" Regii, mas o amor pelo esporte nunca vai acabar.

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  2. Uma viagem de lembranças e sentimentos, meio a tanto gosto com uma pitada de desgosto, dentro de um local onde foi "quintal" da sua casa que, em alguns dias, ouvia-se o ronco de máquinas explosivas e agora não se sabe nem o destino, muito menos o ronco que fará.

    Amei o texto Regii, como sempre a mais bela demonstração da expressão escrita !

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