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Automobilismo na visão de Djalma Fogaça


Eu não vejo o automobilismo acabando, eu o vejo muito diferente, mas apesar de dirigentes ruins, organizadores e promotores ruins, equipes e pilotos ruins, o automobilismo nunca vai acabar, pois no meio de tanta gente ruim, vai haver sempre gente muito boa também, e com o trabalho de poucos bons, se mantém o negócio. 

Muita gente já pegou o automobilismo numa fase muito boa, e no menor sinal de crise imaginam que esta perdido, eu estou a 35 anos nesse esporte, eu talvez seja uma exceção nisso, meu pai não era rico, eu tinha 19 anos quando comecei a correr, e algumas coisas que eu tinha eu fui fazendo virar dinheiro pra comprar um jogo de pneu pro kart, comprei um kart, andava nas corridas de rua, Copa Lenini Severino, depois conheci um pessoal no Tatuapé que andavam de carro já, e ai eu comecei andar, comecei em carro de turismo e logo troquei por um formula.

Só que naquela época era tudo diferente, o formula naquela época rodava com pneubras uma indústria nacional, um pneu ruim pra caramba, só que era ruim pra todo mundo, hoje um pneu custa sete, oito mil reais, em qualquer categoria aí, isso é um absurdo, só que na verdade este pneu não custa tudo isso, na realidade todo mundo tem um pedaço dele entendeu? Em cada jogo de pneu você vê ai seis, sete bocas mamando na teta, antigamente não tinha isso, o automobilismo não era um negocio que o cara só via dinheiro na frente.

É muita diferença daquela época para hoje, eu me lembro que em 86 eu fui terceiro no brasileiro de Formula Ford e fui campeão paulista de Formula Ford, que eram os mesmos caras que disputavam o brasileiro, então você tinha um campeonato brasileiro com dez provas fora e tinha um campeonato paulista com oito ou dez corridas no ano, os mesmos caras faziam estes dois campeonatos e muitos ainda disputavam o carioca, e ainda muitos disputavam o campeonato gaúcho de Formula Ford, então tinha pilotos que disputavam quatro campeonatos, o cara fazia quase quarenta corridas no ano, e não era essa loucura por dinheiro que é hoje.

Hoje todo mundo tem uma mordida, no pneu, no motor, no combustível, é na inscrição, é no clube, todo lugar é uma mordida forte sabe. Aí vou mais adiante, quando eu fui para a Formula 3, no ultimo ano que eu andei, eu tinha equipe própria, a gente viajava por aí com pouca grana, com 5 mil dólares você fazia uma etapa, hoje com 5 mil dólares você não compra um jogo de pneu da etapa, então estas coisas é que tem que buscar o que esta errado.  Então é difícil você mensurar tudo isso, onde está, onde se perdeu, o que aconteceu.

Eu vejo também outras coisas, por exemplo, o esporte se elitizou, ele se organizou, antigamente o Box de uma equipe grande, eram quatro ou cinco cadeiras, uma caixa de ferramentas e mais nada, hoje você vai aos boxes, parece um Box de Formula 1, então o esporte na realidade se elitizou.

A Formula Truck hoje passa por diversos problemas, e o que você vê hoje é uma categoria rachada, simplesmente porque esta sendo gerida por uma empresa familiar que depois de alguns anos, ainda não tem uma do que precisa ser mudado, tanto que depois do falecimento do Aurélio em 2008, nada de novo foi feito, mesmo tendo uma saúde financeira muito boa, e hoje com um conhecimento maior do negócio, talvez tenha o conhecimento, mas já lhe falta a saúde financeira para fazer acontecer da maneira correta. E nisso eu creio que apesar de não ser a sua função, a CBA deveria ajudar financeiramente, como extinguir a cobrança de taxas anuais e quem sabe ajudando na negociação com autódromos e Federações locais, os quais fazem um campeonato regional por 8 mil reais e para a Formula Truck e Stock Car cobram 120 mil reais. Isso não é fazer automobilismo.

Alem disso a Formula Truck sempre teve as suas particularidades, muitas destas particularidades foram criadas a vinte anos atrás e hoje não servem mais, então foi uma categoria que não se modernizou, ficou para trás, com regras antigas, e mesmo assim hoje eu ainda te digo que ela é uma joia a ser lapidada, se vai dar tempo de acontecer isso eu não sei, mas é a única categoria verdadeiramente de marcas no Brasil. É como você falou na sua matéria, hoje o campeonato brasileiro de marcas, isso não é marcas cara, isso não existe, é muito difícil de falar, a gente iria se alongar pra caramba, tudo que eu tinha pra falar você teria que escrever minha resposta em três, quatro paginas e se isso ainda fosse possível, então é um negocio muito complexo de falar.

Outra coisa, nós perdemos muitas praças também, até por conta do que vale um terreno hoje, um terreno daqueles de Interlagos, quanto vale? E quanto valia a trinta anos atrás? Jacarepaguá por exemplo, aquela aera de Jacarepaguá, Barra da Tijuca, hoje parece que você ta em outro mundo, antigamente quando eu comecei a andar aquilo lá era um deserto, então, quanto valia um pedaço de terra naquela época e quanto vale hoje? O cara vai ficar com um autódromo parado pra meia dúzia de bacana correr? Não vai ficar.

Então é difícil, não da pra falar muito mais que isso porque eu teria que me alongar muito mais nisso, eu acho que você colocou muito bem a matéria e ela ta perfeita, mas eu não acho que o automobilismo ta morrendo no Brasil, eu só acho que ele mudou totalmente.

Outra coisa Regii, pra finalizar, muito se fala em Formula 1 né? Mas e a quanto tempo não vai um piloto brasileiro, novo, pra Formula Indy? Quais as categorias de acesso a Formula Indy? Antes tinha Formula Atlantic, Indy Lights, hoje não se falam mais nessas categorias.

Hoje você não tem uma imprensa no Brasil que cubra estas categorias, antigamente você tinha muito menos informação e a cobertura era muito maior, você sabia noticias destas categorias, hoje você não sabe mais nada, hoje você pega os maiores sites de automobilismo os caras só falam de Formula 1, Moto GP e mais nada, falam mais ou menos da Formula Indy e só, então eles vão no que é mais fácil, tem informação televisiva.

Televisão eu acho que é outro erro que os promotores hoje não acompanham a modernidade do negocio, hoje em dia um moleque não assiste televisão, um moleque, uma menina, hoje assiste televisão na hora de ver um Netflix, nem uma TV a cabo os caras assistem mais, hoje com TV você não atinge mais os jovens, quem fica vendo TV é velho, quer atingir o publico jovem? Faz transmissão via internet, o cara leva o celular o tablet pra todo lugar, não fica na sala de casa vendo TV mais, então as coisas mudaram e os organizadores não se aperceberam disso, os jovens executivos de marketing não percebem isso.

Usa aí os 4 milhões que você gasta por ano com uma TV, isso da 400 mil por mês, o cara com um dinheiro desse, ele lota um autódromo, com 150 mil de promoção num evento num fim de semana, você lota um autódromo, é isso que tem que mudar no Brasil, você não tem que pagar pra TV e sim a TV que tem que pagar pra mostra teu evento, e nenhuma categoria no Brasil conseguiu ver isso. Lota um autódromo de gente pra ver se a fabrica não vai querer estar lá, se a TV não vai querer transmitir, não tem um cara que pense assim aqui no nosso automobilismo.

Eu não posso também deixar de lembrar do mestre Aurélio, que estava anos a frente do tempo dele, hoje você vê ideias como inversão de grid, pontuação diferenciada de uma corrida para outra, isso ai já era ideia dele a vinte anos, era um cara muito a frente do tempo, a Formula Truck foi um sucesso e se manteve firme até ficar cansativa e aí tinha que ter coisas novas e elas não foram feitas porque a cabeça de quem estava ali não acompanhou, é uma pena, uma judiação, e o cara faz muita falta, aliado a isso é uma categoria cara, mas também por outro lado, ela ofereceu chance para as equipes ganharem dinheiro, para pilotos ganharem dinheiro, coisas que outros não ofereceram, essa categoria ofereceu, a gente não pode também omitir as coisas boas, mas o modelo ficou cansativo, tinha de se criar coisas novas e não foi feito, não teve uma cabeça para criar as coisas, fora isso também é muito difícil você administras sem grana, sem patrocínio, e a falta do Aurélio, e mais a crise, isso tudo levou as coisas a ficar como estão hoje. 

(Djalma Fogaça)     
  

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