A Formula 1 e Tarso Marques são como aqueles casais que a gente não sabe se, se amam ou se odeiam, como o próprio piloto diz, é um caso mal resolvido, e também como acontece com alguns casais, as idas e voltas fazem parte deste relacionamento, foram três passagens pela categoria, em anos diferentes, coisa rara, e como o destino vive tentando unir o Piloto e os carros da categoria, enquanto eu preparava a segunda parte desta entrevista ele foi convidado para guiar a sua Minardi num evento chamado Minardi Day e a duas semanas atrás Tarso Marques participou do BOSS GP, onde teve a oportunidade de guiar uma Benetton também da mesma época. O fato de guiar esta Benetton também é uma peça do destino, aqui mesmo na sequencia da nossa conversa o Tarso nos conta sobre uma ocasião em que Fernando Alonso, após testar uma Benetton, liga para ele e diz o que achou, 15 anos depois o próprio Tarso teve a oportunidade de guiar uma Benetton parecida e tirar suas próprias conclusões. Sobre estes dois eventos o próprio Tarso nos conta como foi.
Assim é a vida, destino ou coincidências vivem
aproximando o hoje empresário às pistas de corrida, e esta entrevista
“definitiva” talvez não seja tão “definitiva” assim, pois este “caso mal
resolvido com a Formula 1” bem que daria um livro ou quem sabe até uma
trilogia.
No final da primeira parte deixamos
uma pergunta no ar, teria ele realmente xingado o poderoso Roger Penske no
radio? Veja a resposta agora, boa leitura.
RS: Vamos mudar um pouquinho a
conversa só pra você me esclarecer uma coisa. Na sua passagem pela Indy, que
inclusive foi antes desta ultima passagem pela Minardi, você passou pela Penske
e desta passagem surgiu um dos “folclores” do automobilismo sobre o episodio do
rádio com o Roger Penske, você xingou o Roger no radio? Isto existiu?
TM: Sim, existiu, eu... Na verdade é o seguinte, a Indy é outro
conceito, é totalmente diferente, os caras gostam de ficar conversando no
radio, tem o spoter, o engenheiro, o dono da equipe. O Rick Mears era meu
spoter nos ovais e fazia muito bem, era um cara que já tinha sido piloto, então
sabia que incomoda, eu não gosto de ficar falando no radio, enche o saco, fala
só o necessário como é na Formula 1, porra daí você ta lá, já tem uma placa que
te da o tempo, a volta e a posição que você tá, tem o painel do carro que
também te da tudo isso, então o radio é mais para uma coisa técnica, mapa do
motor, combustível, diferencial estas coisas que é preciso interagir com o Box.
Mas toda volta eu passava pela linha de chegada o cara falava “ótima volta
parabéns”, “continua assim”, “cuidado, não chega muito perto do muro”, “virou
tanto”, porra eu tinha o tempo no painel, eu sabia o que eu tava fazendo, em
fim, não era o Roger que normalmente falava comigo, o Rick Mears falava nos
ovais e tinha um cara que era diretor da equipe, o Clive, que falava no radio
toda hora, eu falava pro meu engenheiro pra não deixar o cara falar no radio,
eu dizia; Me deixa quieto do meu jeito que é como eu estou acostumado, na
Formula 1 a gente não fala, quando eu quiser saber alguma coisa eu pergunto.
Que nada o cara toda volta continuava falando, chegou um ponto que eu disse que
se continuasse eu ia parar o carro e ia embora. Outra corrida, na classificação
eu estava fechando a volta o cara fala no radio, putz, eu quase bati o carro,
não tava acostumado, ai o engenheiro pediu desculpas porque o cara foi falar
com outra pessoa e errou o botão, tudo bem, troquei o jogo de pneu, sai para
mais uma volta pra classificar quando eu to fechando a volta entra alguém no
radio novamente, só que desta vez era o Roger e claro que eu não sabia que era
o Roger, aí eu esculhambei, não lembro o que falei, só sei que eu mandei ele pra
aquele lugar ou até coisa pior. Levei o carro pro Box desci do carro e
abandonei o treino, só que os mecânicos estavam dando gargalhadas, e me
perguntavam se eu tava louco, olhei pro Roger ele tava roxo me olhando, os
caras falaram, “porra você mandou o Roger pra puta que pariu”, eu falei; Que
Roger? Era o Clive no radio, e eles falaram; Não era o Clive, era o Roger. Putz
quando eu vi o que tinha feito, fui pedir desculpas, mas ele nem quis saber me
virou as costas e saiu. Acabou ali. Foi uma pena porque é uma grande equipe, só
que naquele ano era horrível porque a gente andava com chassis Penske e todo
mundo andava de Reynard ou Lola, que eram os que ganhavam corridas, no ano
seguinte eles mudaram e voltaram a ser uma puta equipe, a equipe era incrível,
só que o chassis deles não prestava, era lindo, mas não andava, era um conjunto
muito ruim, era um motor Mercedes que era muito bom em oval grande, só, não
tinha força em baixa, horrível de guiar, o pneu a gente andava de Goodyear e só
a gente andava de Goodyear e era uma merda, o pneu não esquentava, então era
uma cadeira elétrica, era uma puta equipe, mas a gente tava ao contrario de
todo mundo, andava eu e o All Unser Jr, ele andava mal pra cacete, em algumas
corridas a gente até andou bem, em quarto, quinto, mas só em oval grande.....
BR: E a sua historia com a Penske
acabou ali?
TM: Acabou ali, infelizmente acabou ali, fui falar com ele, (Roger) ele
nem quis ouvir, escrevi para ele dias depois me desculpando, mas acho que nem
chegou até ele. Eu voltei a falar com ele, acho que fazem us dois anos, liguei
para ele, ele não estava no escritório, mas no dia seguinte ele me retornou, eu
disse que liguei para pedir desculpas daquele episodio de dez anos atrás e no
final caímos na risada. Foi uma pena, porque ele me tratava como, sei lá, um
filho, tanto que depois, acho que em 2006 quando ele estava querendo montar uma
equipe de Formula 1, a gente não tava nem se falando e ele chegou a dizer em
entrevistas que queria contar comigo como piloto caso a equipe realmente fosse
montada. Ele é um cara nota mil, e o que eu falei pra ele no radio realmente
não foi pra ele...
BR: E ele falou com você no radio
porque apertou o botão errado também...
TM: Sim... Ele ficava no radio com o Al Unser, e acabou errando o botão
e falando comigo.
BR: E depois da sua segunda
passagem pela Minardi, você voltou para a Indy, desta vez pela Dale Coyne, não
foi?
TM: É voltei, mas fiz só algumas corridas, a Dale era uma equipe
pequena, mas em uma corrida ou outra o carro até andava direito, eu só sai de
lá porque não me pagaram, não cumpriram o contrato, eu era contratado, tinha um
salário e ele (Dale) não me pagava, passou uma corrida, passou duas, passou
três até que eu disse; Meu esse aqui é meu trabalho, não vai me pagar eu to
fora...
BR: Embora tenham tido esse
problema financeiro, a relação pessoal com ele (Dale) era boa né, ele tinha um
carinho muito grande por você...
TM: Tinha, tinha sim, e até hoje, eu gosto dele e ele me liga uma duas
vezes por ano, até hoje, mas naquele caso foi questão profissional, eu não estava
recebendo e este é meu trabalho. Foi isso.
“A Ferrari falou pra
negociar a multa com a Minardi que eles pagariam, o Giancarlo disse não, não
quero a multa, nos queremos os motores Ferrari...”
BR: Voltando para a Formula 1, já
que estamos falando de relacionamento, amizade, uma curiosidade minha. Eu tenho
a copia de uma carta, não sei se escrita por você, mas escrita à mão e em
Italiano, endereçada ao Giancarlo, uma carta até emocionada dizendo que
infelizmente você estava se desligando, ou abrindo mão de correr pela Minardi,
você se lembra disso?
TM: Assim, não lembro exatamente o teor, mas sim, eu sempre tive muito
carinho pelo Giancarlo, algumas pessoas podem pensar que ele fodeu com a minha
carreira, pois quando eu tive a oportunidade em que eu estava negociando com a
Ferrari, eles não me liberaram, meu contrato com a Minardi era longo e a
Ferrari falou, negocie a multa que a gente vai pagar, mas o Giancarlo disse
não, não quero a multa, nos queremos os motores Ferrari e a Ferrari não podia,
pois já tinha negociado os motores com a Sauber e acabou que eu não assinei com
a Ferrari, acionei a Minardi e não corri em lugar nenhum, fiquei dois anos sem
correr de nada até o termino do contrato, recebendo, mas sem correr. Mas eu
vejo diferente, porque ao mesmo tempo em que eu fui prejudicado neste caso, por
outro lado se não fosse por ele talvez eu nunca tivesse corrido de Formula 1,
foi ele o cara que me viu antes, foi lá me deu um teste, coisa que ninguém
fazia e foi o cara que falou; Eu vou te contratar por cinco anos, pagando, todo
mundo entra pagando na Formula 1 e eu entrei recebendo salário pra correr na
Minardi, isso não existia e não existe hoje, entendeu?
“quando o Webber andava
bem ele tomava um segundo e meio da gente, assim, de sair um e entrar outro no
carro...”
BR: É aquilo que eu bato sempre
na mesma tecla dizendo, 90% destas coisas acabam ficando escondidos do público.
Dias atrás o Giancarlo durante uma entrevista concedida a um site
especializado, ele colocou você entre os três melhores pilotos não apenas dos
que passaram por ele na Minardi, mas entre os que ele teve contato e viu de
perto, se considerarmos que alem de você ele teve o próprio Alonso em inicio de
carreira, eu só gostaria de saber quem é o terceiro. Mas o que eu digo é que isso
não chega ao publico, é que estas impressões e comparações são muito mais evidente
nos testes, onde, por exemplo, os pilotos testam o mesmo carro, com o mesmo
acerto e no mesmo dia, como foi na ocasião em que você enfiou um segundo no
Fisichella...
TM: E ele (Fisichella) teve mais oportunidades do que eu, a Formula 1 é
tudo sacanagem... O Webber tava correndo até esses dias, correu numa equipe em
que chegou a disputar campeonato. O Webber era piloto de teste da Minardi
quando corria eu e o Alonso, a gente andava os três no mesmo carro, quando o
Webber andava bem ele tomava um segundo e meio da gente, assim, de sair um e
entrar outro no carro. A gente ficava tirando sarro dele, uma vez ele perguntou
no radio como foi o tempo de volta dele, o Alonso tava no banheiro, ai ele
colocou o radio próximo do vaso e puxou a descarga e disse “foi uma merda tua
volta” (risos)... E é um cara que ficou um puta tempo na Formula 1.
BR: É, são os caminhos né cara,
que você toma, um acordo bem feito, uma conversa com a pessoa certa...
TM: É o “estar no lugar certo, na hora certa”, e acabou não adianta é
muita coisa de sorte, de acerto de contrato. Como o Alonso, nunca vi um cara
pra ter tanta sorte como ele, dava tudo certo pra ele e ultimamente virou o
negocio pra ele, porra ele ta toda hora no lugar errado, na equipe errada, saiu
da Ferrari a Ferrari ta melhorando, foi pra McLarem o carro ta se arrastando,
então é momento, cada um tem seu momento e tem gente que consegue aproveitar. E
o Hamilton? Saiu da McLaren e foi pra Mercedes que era uma incógnita, eu mesmo
pensei putz que cagada do Hamilton sair da McLaren, no final foi o melhor
negocio do mundo para ele, então não adianta é a estrela do cara e acabou.
BR: Assim como tiveram muitos
“mancos” que estavam neste tal “lugar certo na hora certa”, não é?
TM: Mas vários, Damon Hill, Button... Eu acho o Rubens (Barrichello) muito
mais piloto que o Button, sinceramente, aconteceu um monte de problema, ele
ficou meio ano com problema, negocio de freio, adaptação, não sei o que
acontecia exatamente dentro da Brawn, mas eu acho o Rubens muito melhor que o
Button, e o Button foi campeão mundial, o Button...
BR: E era o momento para ele
(Rubens) ser campeão...
TM: Era o ano dele, e era um ano que todo mundo falou que ele tava
morto, saiu da Ferrari e foi pra Honda, a Honda pula fora e ele fica
praticamente desempregado na Formula 1 e a Brawn acaba sendo a melhor equipe do
ano, quer dizer, era o ano dele, a chance dele se consagrar e que teria mudado
a vida dele, a chance de mostrar que não havia sido campeão por sacanagem da
Ferrari e do Schumacher, e acabou sendo o contrario e o Button foi campeão.
“não tenho ido ao GP
Brasil nos últimos anos, não vou porque fico mau de ver, vários anos que fui eu
via duas voltas e ia embora chorando...”
BR: E hoje em dia você acompanha
a Formula 1 com regularidade?
TM: Eu vejo, mas não é aquele negócio, se der eu vejo e se não der não
me faz falta também... Não gosto de ir ao Autódromo, não tenho ido ao GP Brasil
nos últimos anos, não vou porque, assim, eu fico mau de ver, vários anos que
fui, eu via umas duas voltas e ia embora chorando, fica uma sensação de coisa mal
resolvida, se fosse assim, tive minha chance na Formula 1, fiz o que pude, não
dei conta, ou os caras são melhores, fiz minha parte corri e valeu, mas não, eu
não tive a chance que tanta gente teve...
BR: Como o próprio Button que
acabamos de falar...
TM: O próprio Alonso, por exemplo, eu tinha de ter assinado uma
contrato e não assinei, ele assinou. Quando ele andou a primeira vez de Renault
(Benetton) ele me ligou, tinha acabado de treinar, tinha sido o mais rápido do
dia no primeiro treino, ai ele me disse “cara a gente nunca andou de Formula 1,
a primeira vez que andei foi hoje, é muito fácil, agente se matava pra andar de
Minardi, mas é muito fácil”. Eu me lembro de uma vez em Mônaco, a gente sentado
na pista e ele (Alonso) falando que um dia a gente ia se matar com aquela
Minardi, o pessoal falava pra gente “não é uma opção vocês não se
classificarem”, naquele tempo você tinha que se classificar para correr, se
ficasse fora do limite de tempo você não corria. Era assim, tinha que
classificar e não podia bater em hipótese nenhuma, pois se quebrasse um bico
não tinha outro pra trocar.
BR: Da pra dizer que vocês
corriam risco, por andar nestas condições?
TM: Não, correr risco todo mundo corre, e eu nunca fui conservador, tem
que ir pro pau eu vou, tem que correr risco eu corro, a partir do momento que
você começa a pensar nos riscos então nem corra, fique em casa, eu penso assim,
mas lá, não é que agente arriscava, lá era toda curva, toda freada, não era o
caso de arriscar só na classificação, era o final de semana inteiro e se não
arriscasse o tempo todo o carro não andava. Ninguém imagina o que a gente
passava, era mil vezes mais difícil andar lá atrás de Minardi do que andar na
frente, em outras palavras, era preciso ser muito mais piloto pra guiar aquela
Minardi do que pra guiar uma Ferrari naquela época.
BR: Agora, veja bem, na Formula 1
são as equipes quem constroem os carros, existe uma diferença muito grande
entre estas equipes que é basicamente a questão financeira de cada uma, porem
estes carros são construídos dentro de um regulamento que vale para todos, então
o que torna uma equipe tão superior às outras, só o motor? Que também segue um
regulamento? A pergunta é, justifica todo este investimento a mais, estes
milhões a mais que uma equipe como Ferrari, RBR ou Mercedes investem?
TM: Justifica sim, eu falo pela minha época que é do que eu tenho
conhecimento, a Minardi tinha 60 pessoas trabalhando na equipe, a Ferrari tinha
400, ai um túnel de vento que é essencial para o desenvolvimento, a gente não
tinha, a gente alugava por um determinado numero de horas, antes de começar o
campeonato e acabou, depois ia outra vez na metade do ano durante um dia só, a
Ferrari era 24 horas, o ano todo, com o túnel de vento funcionando, teste era
liberado, então em 2001 eu fiz dois testes durante o ano e os caras tinham tantos
testes que por exemplo se a corrida era na Itália, eles tinham uma equipe na
Itália e outra na Inglaterra testando, na mesma semana, a evolução de uma para
outra é fora da realidade, e isto é o dinheiro, é o investimento refletindo
diretamente nos resultados. Eu acho até que a diferença era pequena entre nós e
as equipes de ponta, na Áustria a gente classificou a 1,9” da pole, se você
pensar que era um carro que tinha uns 150cv a menos, nada de testes, mais
pesado, eles com um orçamento de 400 milhões e o nosso de 30 milhões, a
diferença era muito pequena.
BR: Este orçamento contempla
também o material humano, e este material humano realmente faz toda a
diferença?
TM: Faz, e faz muita, o material humano que mais faz diferença é o
projetista, um Adrian Newey é um exemplo que hoje é um dos tops e não é barato
ter um projetista destes, e têm aqueles outros que às vezes acertam um carro. E
tem outros casos também em que a equipe tem um puta orçamento e não consegue
traduzir isso em vitorias, um bom exemplo é a Toyota que na época não tinha um
orçamento pré-definido, não tinha um teto, eles tinham 700 pessoas trabalhando
e passaram dez anos na Formula 1 e não conseguiram um titulo mesmo investido
mais do que as equipes que foram campeãs nestes anos.
BR: Vamos entrar num assunto que
é sempre polemico, o famoso “jogo de equipe”. Já ficou claro que na sua volta
para a Minardi em 2001, você foi chamado justamente para ser o fiel escudeiro
do então iniciante Fernando Alonso, passaria sua experiência para ele,
inclusive acertando o carro, em fim, casos um pouco diferentes aconteceram ao
longo dos anos, com o Rubens e mais tarde com o Felipe, ambos em equipes em
condições de ganhar corridas, o Rubens por mais de uma vez, inclusive estando
liderando uma corrida e prestes a vencer... Você, no lugar de um deles o que
você faria? Ou olhando de fora, você concorda com esse tipo de troca de posição
na pista para favorecer um companheiro de equipe? Levando em conta também que o
piloto que da passagem poderia estar abrindo mão do que talvez poderia ser a
única vitoria numa categoria tão disputada onde existem pouquíssimas chances de
vencer?
TM: Boa pergunta, é um tema complicado porque como piloto você fala não,
jamais faria... No meu caso foi diferente, não tinha uma clausula no contrato,
mas realmente era isso mesmo, o Alonso era o primeiro piloto, era o cara que
levou o patrocinador para a equipe e eu era o piloto contratado e mesmo assim
por varias vezes eu recebi ordem pra trocar de posição com ele e não trocava,
tivemos varias brigas dentro da equipe, eu dava desculpa que o radio não funcionou,
eu não vi a placa e ia levando, cada hora eu arrumava uma desculpa. Mas falando
dos dois, do Rubinho e do Felipe... É uma situação muito difícil, queira ou não
queira o piloto é um empregado da equipe, não é como todo mundo vê o piloto
como a peça principal, não, ele é mais uma peça do time, lógico, é a peça que
aparece, como um vocalista numa banda, mas pra ganhar precisa de uma equipe
imensa. Eu se estivesse numa condição onde, como você falou, é minha chance de
vitória e pode ser a única da minha vida, podiam falar o que for, eu não
trocaria jamais. Se eu estivesse no lugar do piloto que estaria sendo
favorecido pela troca eu teria vergonha, honestamente, eu acho ridículo,
principalmente como em algumas circunstancias, se esta valendo um campeonato onde
você esta ajudando a tua equipe a ser campeã é uma coisa, agora trocar no meio
da temporada como aconteceu entre o Schumacher e o Rubens é inadmissível é a
maior palhaçada do mundo e acho que piloto nenhum deveria se submeter a isso,
mas tem o lado obvio de que o piloto é empregado entendeu, da pra entender
principalmente o lado do Rubens que todo mundo sabia, era declarado que o
Schumacher era o primeiro piloto da equipe e não tinha o que fazer, sei que foi
muito contra a vontade dele, fez até uma na Áustria em que ele tirou o pé na
linha de chegada praticamente que foi uma coisa que humilhou tanto o Schumacher
que ele ficou com vergonha até de subir no pódio. Já no caso do Felipe acho que
extrapolaram pra cima dele varias vezes, teve uma corrida em que o Alonso
passou por ele na entrada do Box, jogando ele na grama (risos). Este é o tipo
de coisa que, acho que mais do que a troca, é sapatear em cima do cara, acho
que aí ele teria que se impor, custe o que custar, mas é da personalidade de
cada um, é muito difícil, teoricamente você tem que cumprir o que tua equipe
pede, mas tem hora que realmente não dá e acho que vale a pena o piloto brigar
contra isso.
“A Formula 1 é um lugar
de muita gente sem caráter pensando no próprio nariz apenas, e as pessoas não
medem as consequências para conseguir o que querem”.
BR: Seguindo ainda nesta linha de
ordem de equipe, você até usou o termo extrapolar, como você viu e o que pensa
sobre o caso do Nelsinho Piquet em Singapura. A índole do Briatore todo mundo
conhece, a posição do Nelsinho, como você mencionou, era a de empregado. O
pedido do Briatore para o Nelsinho, não simplesmente ceder uma posição, mas sim
bater o carro deliberadamente, numa determinada posição da pista já
pré-estabelecida para provocar a entrada do carro de segurança e com isto
favorecer, de novo, o Fernando Alonso que acabara de fazer um pit stop. Não vou
dizer que o Nelsinho tenha se arriscado fisicamente, pois foi tudo muito
calculado, mas este é um caso que você chamaria de extrapolar?
TM: Esse caso é uma coisa totalmente à parte, primeiro que vindo do
Briatore nada me assusta nem surpreende, índole é uma coisa que ele nem sabe o
que é, ele não mede as consequências pra nada, vê só o lado dele e foda-se os
outros, totalmente sem escrúpulos. O Nelsinho, a verdade ninguém sabe né, só
ele, eu achava que nunca alguém faria isso, bater propositalmente pra
beneficiar outro piloto, já vi gente bater pra beneficiar a si mesmo, nunca a
outros, e de novo, não sendo nem uma situação pra ganhar campeonato. Mas a
gente não sabe o que se passou, não vou dizer que o Nelsinho deveria ou não ter
feito, na verdade nunca ninguém vai saber o que realmente aconteceu, só ele, eu
não culpo o Nelsinho e tenho certeza que ele fez contra a vontade, mas o que
tava em jogo, o que foi pedido, só ele sabe. O pior é ter feito o que o
Briatore pediu, passar pela vergonha que ele passou, se expor ao risco e se
queimar como aconteceu com ele, acabou perdendo o emprego, se queimando na
Formula 1 por um pedido de um cara como o Briatore? E o que o Nelsinho ganhou
em troca? Cadê a garantia de que ele ia permanecer na Formula 1 se batesse? Se
nem o Briatore permaneceu na Formula 1 depois disso. A Formula 1 é um lugar de
muita gente sem caráter pensando no próprio nariz apenas, e as pessoas não
medem as consequências para conseguir o que querem.
TM: Na verdade sim, customização eu gostei desde pequeno, acho que eu
tinha uns 12 anos, eu queria fazer uma caminhonete F1 que eu ganhei do Pepito
na época, acho que era 51 se não me engano e desde aquela época eu já era louco
por carro antigo e por Harley, eu comecei customizar Harley em 94, então foi
antes da Formula 1, em 92,93 eu já ficava desenhando e sonhando em fazer uma
moto, mas foi em 94 que eu acabei fazendo minha primeira Harley.
BR: E a televisão como entrou na
sua vida? Eu me lembro, acho que em 2006 ou 2007 você fazia um programa chamado
Velozes e Curiosos e depois disso se tornou figura fácil no Auto Esporte da
Globo e finalmente chegou ao Lata-Velha do Caldeirão do Huck. Minha pergunta é,
você já tinha esse desejo de trabalhar com televisão ou aconteceu naturalmente?
TM: Televisão foi acontecendo, nem sei ao certo como, era uma coisa que
não era minha praia, quando eu tava na Formula 1 eu era meio avesso à mídia,
não gostava de dar entrevista pra televisão nem pra revista, fotografar, estas
coisas, mas com o tempo agente vai aprendendo que estas coisas são necessárias
e principalmente quando eu entrei para o negocio de customização foi ficando
legal fazer principalmente para as pessoas entenderem como é feito o trabalho,
são coisas que a gente vai aprendendo com o tempo e hoje eu acho bacana fazer.
BR: E hoje a marca TMC se tornou
uma das mais reconhecidas no mundo em termos de Design, Exclusividade e
Produtos Premium, você acha que hoje, em se tratando de sucesso, o empresário
Tarso Marques já superou o piloto Tarso Marques?
TM: Acho que são coisas diferentes Regii, se for considerar o piloto,
eu fiquei por anos na maior categoria do mundo, anos entre os 18 melhores
pilotos do mundo e tenho certeza que eu poderia ter sido o melhor, porem não
tive a oportunidade que outros tiveram porque eu não tive carro, mas creio eu
que ainda assim fui um raro caso de um piloto que por três oportunidades entrou
na Formula 1, como contratado numa época em que já se pagava pra andar e a
minha terceira passagem pela Formula 1 aconteceu quatro anos depois de ter
saído, hoje em dia não se consegue nem imaginar isso. Como empresário aqui a gente
também tem algumas limitações por ser Brasileiro, por não ter condições no país
e não ter o orçamento que os gringos têm, porem a gente já ganhou alguns
títulos mundiais nos últimos quatro anos, mas não da pra comparar uma coisa com
a outra. Como empresa genuína de customização talvez a TMC seja a maior do
mundo, acho que a única empresa que faz customização de moto, carro, avião,
helicóptero e barco, faz carro antigo, carro moderno, no Brasil não da nem pra
comparar, aqui o pessoal só troca peça e fala mal do produto do outro, trocar
peça e restaurar carro é fácil, fazer do zero igual agente faz aí já é outra
pegada né...
BR: Ter sido piloto ajuda o
empresário? Por serem mundos próximos, a credibilidade, a confiança em entregar
um projeto de um carro, por exemplo, a uma pessoa que conhece de perto a
performance, os detalhes técnicos que envolvem o desenvolvimento de um carro ou
uma moto, até mesmo no nível de clientela a ser atingida, isso ajuda ou não é
assim tão importante?
TM: Acho que ajuda sem duvida na experiência no ponto de vista da
construção, na parte de design, performance, funcionalidade, nisso ajuda com
certeza. O que eu vivi como piloto ninguém aprende na faculdade, são experiências
praticas, ali eu sei o que funciona e o que não funciona e isso ajuda demais em
todos os projetos.
BR: Você com a TMC é Tetracampeão
Mundial na customização de motos, só para a gente entender melhor, o que
representa um Brasileiro, chegar lá nos Estados Unidos, berço da customização,
e vencer o maior campeonato do gênero no mundo?
TM: Bom, eu posso dizer que a nível aqui de Brasil a customização antes
de nós nem existia, quando eu fiz a minha primeira Harley totalmente
customizada desde o chassis, acho que não existia nem Harley no Brasil, não
existia concessionária Harley, tinha uma ou outra Harley importada, ou da
Policia, e as que tinham eram originais ou no máximo pintadas. A minha primeira
eu fiz tudo, chassis, tanque, para-lamas, tudo, coisa que a maioria dos caras,
que hoje se dizem customizadores não fazem, nos fazíamos há 20 anos atrás. E
ganhar um campeonato, com quatrocentas e cinquenta motos, os maiores
customizadores do mundo estão lá e praticamente só os americanos ganhavam, e a
gente chegou lá e, não só ganhamos, como estamos ganhando fazem quatro anos
seguidos. Isso é bom, a gente ta com uma moral boa lá.
BR: E o Lata Velha? Eu confesso
que quando eu via esse quadro antigamente e via uns projetos horríveis,
exemplo, um 147 com seis rodas ou um Logus de um Pedreiro que os caras colaram
azulejos no carro, eu fiquei meio que com o “pé atrás” quando você foi fazer
este quadro, porem em minha opinião você levou classe para esse quadro e
mostrou que da pra fazer customização de qualidade em qualquer carro ou moto.
Como tem sido trabalhar nesse quadro do Caldeirão e como é trabalhar com o
Luciano?
TM: É muito bacana, tirando os prazos que são sempre apertados, é muito
gratificante porque em todos os casos, sem exceção, tem muita emoção envolvida,
as pessoas realmente tem amor pelos carros e quando eles finalmente veem o
carro pronto é muito legal. O Luciano consegue tirar dos participantes todo o
sentimento deles pelo carro ou moto e consegue mais do que isso, ele mergulha
na historia da pessoa e da família e a gente vai nessa linha e tenta passar
para o carro ou moto, um pouco da personalidade e da historia de cada um, mas
sem deixar de lado o bom gosto e a qualidade que já é de costume nosso.
BR: Vamos finalizar, novamente
falando de Formula 1, você esteve participando de dois eventos nos últimos
meses onde num deles você teve a oportunidade de guiar sua Minardi novamente
após 15 anos e dias atrás você esteve disputando o Boss GP onde correu com uma
Benetton, também da mesma época, inclusive marcando pole e vencendo. Qual a
sensação de pilotar novamente seu carro e qual a impressão teve do carro da
Benetton em comparação ao equipamento que você guiava na época?
TM: Foi incrível, eu não guiava um Formula 1 a 15 anos né, então no
Minardi Day onde eu pude guiar o meu carro foi incrível só que o carro tava
ruim, tava falhando, tava muito quente no dia, então foi legal e ao mesmo tempo
frustrante porque eu andei pouco no carro. Agora essa oportunidade no Boss GP
foi incrível por que voltei a andar de Formula 1 e foi demais a corrida, a
gente foi mais rápido o tempo todo, mais rápido na chuva, mais rápido no seco,
tinham pilotos mais novos, pilotos que estão tentando entrar na Formula 1 e foi
super bacana. O mais legal mesmo foi andar num Benetton que era bem parecido
com os da minha época e eu pude ver realmente o que eu imaginava, que com um
carro bom é um milhão de vezes mais fácil de guiar, é ridículo ver o que eu
sofria pra guiar o Minardi comparado com o que é guiar um Benetton que era um
carro bom na época, não era o melhor, mas era um carro bom, é infinitamente
mais fácil de guiar, mais na mão, você tem total controle do carro, você meche
muito menos o volante você cansa menos você não erra, cara é outro mundo, fora
que o carro não dá problema, fiz todos os treinos e as duas corridas e sem
nenhum problema no carro, fiquei realmente impressionado e tudo facilita
absurdamente pra guiar o carro e com isso, com um bom equipamento facilita pra
chegar lá e fazer o que eu sei, aí fiz pole e ganhei a corrida e foi muito
bacana mesmo.
FIM?