O automobilismo esta acabando no
Brasil? Esta pode ser uma pergunta bastante ouvida no nosso meio, porem quase
nunca respondida, quando respondida é baseada em teorias próprias de pessoas
que ainda se preocupam em encontrar uma resposta. A minha teoria pode não ser a
mais apropriada, pode não explicar absolutamente nada e pode até não responder
a pergunta acima, mas é mais uma opinião a respeito e com respeito, na
tentativa de buscar entender o por quê de tanto descrédito e desprestigio deste
esporte.
Quando algo foge ao gosto da maioria,
ou nem chega a atingi-lo, isto se torna marginalizado, é o que acontece com o
automobilismo, infelizmente este “esporte” nem tem as características de
esporte. Esporte é algo que “praticamos” e à medida que praticamos pelo menos
uma vez, podemos sentir gostos positivos ou negativos a respeito, formar uma
opinião sobre este esporte, dar a ele valor ou simplesmente marginalizá-lo.
De experiência própria já passei por
vários, futebol, basquete, vôlei, tênis, futsal e sim experimentei o
automobilismo é claro. A principal semelhança entre os primeiros esportes desta
lista é que eles podem ser praticados basicamente por qualquer pessoa. Exemplo,
para Futebol, vôlei, basquete e uma serie de outros, você precisa apenas de uma
rua, uma bola, uma aro de bicicleta pregado a uma estaca e “zazz” você tem uma
cesta de basquete, uma raquete de tênis, para brincar, pode ser substituída por
uma de frescobol. Para se “praticar” a natação basta uma bermuda e uma piscina
ou rio. Isto faz com que as pessoas, sobre tudo jovens, tenham a sensação de
estar dentro do esporte, um menino pode se sentir o próprio Guga, Cezar Cielo,
Pelé, Oscar e muitos outros. Agora, pergunte a dez meninos se eles já se
sentiram um Airton Senna ou, pra eles entenderem, cite Felipe Massa, muitos
saberão quem são, porem nunca se sentiram como tal porque o automobilismo é um
esporte que não se pratica.
Quando escutamos algum piloto falando
que veio de família humilde, que teve dificuldades na carreira, com algumas
exceções como Michael Schumacher cujo avô era caseiro em uma pista de Kart, e
que um amigo da família lhe deu um kart velho, na realidade não existe pessoas
humildes de verdade no automobilismo, por maior que seja o esforço feito, se um
pai consegue desembolsar cerca de cinco mil reais para comprar um kart usado
para seu filho, este já esta bem alem da realidade da maioria. Um esporte que
não se pode praticar na rua jamais será popular, infelizmente, um esporte em
que um pai não possa arcar com o custo do material jamais fará um filho
campeão. Um esporte que não pode ser praticado em praça publica não tem a menor
chance de formar campeões, pelo menos não atrai, de inicio, praticantes que
possam, depois de tomar gosto, investir o mínimo que seja em uma carreira.
Esportes como Hipismo, tiro,
ginástica olímpica, necessitam de, no caso do hipismo, um cavalo, do tiro a
arma e da ginástica os aparelhos, já começam a ser descartados desde o inicio,
ao passo que esportes que são praticados na escola vão ganhando adeptos desde a
infância. Esta mais que provado que em sua grande maioria os pilotos que
alcançaram uma boa posição no esporte começaram com menos de dez ou doze anos
de idade. Como é possível na posição de pai, optar por comprar um Kart para seu
filho de dez anos, pagando próximo de Dez mil reais e não comprar uma bola que
custa na media uns cem reais? Paixão pelo esporte, desejo de ver seu filho
praticando um esporte que ele próprio talvez não tenha tido a chance de
praticar. Dinheiro, pois sem dinheiro não basta que seu filho seja um piloto.
Chegamos então à conclusão de que é
preciso ter dinheiro para se praticar automobilismo, e sabemos que dos pilotos
hoje em atividade no Brasil, desde o Kart até a Formula Truck e Stock Car, 100%
dos pilotos dependem de dinheiro para praticar seu esporte, e dinheiro numa
escala bem maior que a de qualquer outro esporte. Não fica muito difícil
imaginar então que se nosso automobilismo vem em acentuada queda, entre outros
motivos, pela falta de dinheiro, seja de pais de pilotos como também de
patrocinadores.
Se formou no imaginário de todos nos
que o automobilismo é um esporte da elite, e como este esporte sobreviveu até
hoje, nos da a falsa impressão de que o automobilismo não precisa de apoio ou
incentivo de governos e federações e mudar este quadro hoje é demasiado tarde.
Ao contrario do futebol que vive também em constante crise, a principal
diferença do automobilismo é que as categorias nascem e morrem em media máxima
de cinco anos, em outras palavras, o automobilismo não passa credibilidade para
que se possa atrair investimentos à longo prazo, a media de prazo para uma
assinatura de contrato de patrocínio, seja para um piloto, uma equipe ou um
campeonato é de no máximo um ano. O histórico de competições e categorias
mostra que elas sobrevivem de ano em ano e isso cria um circulo vicioso,
patrocinadores não investem à longo prazo porque categorias de automobilismo
não duram, e categorias não duram por não terem investimentos garantidos a
longo prazo.
O momento atual do nosso país no automobilismo
tem o seguinte quadro; Não temos nenhuma categoria realmente de base voltada ao
monoposto, saindo do kart o piloto vê a sua frente uma lacuna enorme, em todos
os sentidos, técnico, financeiro, há uma distancia enorme entre o kart e a
categoria mais próxima, seja ela de turismo ou a formula 3, esta única
competição de monopostos a nível Brasil que se arrasta com um grid de no máximo
dez carros por conta dos custos. No turismo, teríamos a opção mais próxima e
barata que seria a Sprint Race, que poderia ser trabalhada como categoria
escola, porem conta com uma media de idade entre os pilotos deste ano que fica
bem acima dos vinte anos, ou seja, longe de estar cumprindo este papel, mesmo
sendo a categoria mais barata do Brasil.
La fora temos apenas uma ultima esperança
de ver um piloto se destacando na Formula 1, estou falando de Felipe Nasr, alem
é claro de Felipe Massa que ainda pode se manter por mais uns anos. Em
Felipe Nasr, vejo reais chances de surpreender, mas aí já entra um outro fator
pelo qual sofremos no automobilismo internacional, contratos mau assinados,
afobação na hora de chegar a Formula 1, foi o caso de Bruno Senna, Lucas di
Grassi e outros que na pressa de atingir o ponto Maximo do automobilismo
esquecem de que alem de chegar lá é preciso se manter. Enfim, alem de Felipe
Nasr, não vejo no momento mais ninguém com destaque, o que podemos concluir é
que nos próximos cinco anos, podemos ou ter uma nova esperança na Formula 1 ou
já estaremos sem representantes por lá.
O que fazer então? Apenas cruzar os
dedos e torcer, torcer para que alguém com boas ideias assuma a CBA, e que os
“milionários” continuem apostando nos seus filhos, sobrinhos e amigos. Rezar
para que o único apoio com que o Kartismo conta hoje que se chama seletiva
Petrobras continue por mais alguns anos. Torcer para que nossas praças
automobilísticas não sejam destruídas como foi Jacarepaguá. Dar força para os
campeonatos regionais para que preparadores e mecânicos continuem em atividade.
O formato das competições de hoje em
dia, com raras exceções (leia Formula Truck), acabam com a figura do
preparador, categorias como Stock Car, Brasileiro de Marcas, Brasileiro de
Turismo e outras tantas, tem como formula, segundo seus idealizadores para
diminuir custos, motores e câmbios iguais fornecidos por um único preparador,
amortecedores iguais, mola iguais, enfim tornam os preparadores engessados de
tal forma que só podem mexer em cambagem, calibragem e pressão aerodinâmica
através de asas que pouco influenciam. A solução talvez fosse o contrario principalmente
no Brasileiro de Marcas, usar motores originais preparados, câmbios originais
com modificações, suspensão etc... Tudo isto com o apoio das fabricas como
verdadeiros desenvolvedores, as fabricas, teriam motivação para investir e cada
uma investiria de acordo com suas expectativas de mercado, preparadores
voltariam a ser preparadores. Como buscar patrocínio por exemplo na industria
de autopeças se as peças não estão nos carros? O que vemos hoje em dia são
carros de brinquedo com componentes fabricados e que nada tem em si que possa
ser levado para os carros de rua.
Em suma, se nada for feito a
respeito, nosso automobilismo enquanto durar, e vai durar pouco, continuará
sendo visto como “diversão de playboy” e não como esporte, e pior, se os
riquinhos acharem outra brincadeira para se divertir aí sim estaremos mortos.
Os que podem brigar por melhorias
neste sentido não querem brigar, os que querem, como eu, têm pouca voz.
E assim caminha o automobilismo,
todos nós imaginamos que sabemos o que precisa ser feito, só não temos meios,
ferramentas e apoio pra fazer o que tem de ser feito. Quem fará?