Acordei às três horas da manhã para cumprir um ritual que vem
desde os meus dez, onze, anos de idade, assistir a etapa de abertura anual do
mundial de Formula 1. Muitas mudanças aconteceram nestes trinta anos, algumas
boas outras ruins, mas desta vez me senti traído. Vou relatar uma breve
historia e talvez entendam.
Meu primeiro contato com a Formula 1 ao vivo aconteceu em
1999 num grande premio em Interlagos, foi como torcedor, fui de excursão de
Curitiba para São Paulo, eu havia adquirido meu ingresso através do extinto
Banco Real e deveria retira-lo num dos postos de entrega que ficava na Avenida
Interlagos, era manhã de sexta-feira, o ônibus da excursão nos deixou a quilômetros
do autódromo, quando encontrei o posto onde retiraria meu ingresso tive de
voltar mais ou menos quinhentos metros para encontrar o fim da fila e aguardar,
o tempo ia passando e a fila parecia nem se mexer. Por volta das nove horas
ouvi um barulho ensurdecedor, um som que jamais esqueci, eram os carros que
começavam o primeiro treino do dia. Naquele momento ainda na fila, senti um
arrepio na pele, mesmo a quilômetros do setor G, que era onde deveria estar,
mesmo fora de Interlagos, me senti dentro da Formula 1, uma sensação indescritível,
um misto de estase pelo que estava por vir, com o desespero de estar naquela
fila que parecia estar parada.
Até hoje uso esta historia para contar aos amigos, filhos e
pessoas que nunca foram a um GP, qual a sensação que a Formula 1 ao vivo nos
oferece.
A partir deste domingo fica mais difícil descrever tal
sensação, pois a Formula 1 perdeu o som. Tente imaginar a historia acima com o
som atual da Formula 1. Provavelmente de onde e eu estava, nem perceberia que
os carros já estavam na pista.
Em resumo não vou discutir regulamentos, mudanças técnicas e desempenho,
logo na primeira corrida, mas já posso dizer com certeza que a Formula 1 perdeu
um pouco da sua magia.
Não me senti a vontade, não me senti assistindo a Formula 1 e
isto me incomodou muito, me senti enganado, nada demais, o esporte a motor tem
me enganado constantemente, e eu, “mulher de malandro” que sou talvez até me acostume
com isso também. Mas a sensação que tenho é que a cada dia os detentores das categorias
parecem dar um passo em direção ao fim.