O depoimento do ginasta medalha de
ouro em Londres ao Esporte Espetacular no ultimo domingo, onde diz que por
falta de apoio, já pensa em se naturalizar em outro país que lhe garanta um
mínimo de estrutura para treinar serve não apenas de alerta, mas também para
refletirmos sobre alguns pontos. Primeiramente, patrocínio no nosso país não
existe mais já faz alguns anos, exceto é claro para os Clubes de Futebol, mas
isto ao contrario de muita coisa que ouço falar por aí, não é uma critica ao
futebol, bem pelo contrario.
Todo esporte que se pense em praticar
profissionalmente no Brasil passa por essa carência de incentivo, atletismo,
pugilismo, handebol, judô e tantas outras incontáveis modalidades que só ganham
um pouco de visibilidade apenas em jogos olímpicos e isto significa de quatro
em quatro anos, da até pra entender a falta de incentivo por meio de patrocínio
privado, o que é difícil de engolir é a falta de recursos vindo de governos
tanto Federal, Estadual e Municipal, até porque, ao contrario por exemplo de
outros esportes como o nosso automobilismo, os praticantes de modalidades
olímpicas ganham o status de representantes do país.
Ouvi muita bobagem a esse respeito,
pessoas falando que com o salário do Neymar daria pra bancar todos os ginastas
do Brasil, outros disseram que o Zanetti realmente deveria deixar o país e se
naturalizar em outro, enfim, muita bobagem mesmo.
Com base no Automobilismo que é o que
conheço chego a seguinte conclusão, já faz muito tempo que na grande maioria
dos pilotos que conheço, ricos ou pobres, tiram dinheiro do bolso para praticar
seu esporte. Os “bem nascidos” ainda conseguem algum incentivo de empresas de
amigos, quase sempre uma espécie de lavagem de dinheiro, nada relacionado ao talento,
empresas de família que apoiam os “pilotos da família”. Tenho um amigo que o
ultimo patrocínio que recebeu foi de uma empresa de medicamentos, e em
remédios, isto mesmo, uma tonelada de medicamentos que teriam de ser vendidos
para virar dinheiro e com o dinheiro bancar o campeonato de 2010, pra encurtar
a historia este amigo esta com um barracão cheio de medicamentos vencidos e
terá de pagar uma fortuna para incinerar estes medicamentos.
As instituições estatais que teriam
por obrigação apoiar atletas em inicio de carreira, atletas olímpicos,
campeonatos amadores de atletismo, kart, basquete e outros, preferem apostar em
grandes eventos consagrados como Stock Car e grandes times de Futebol. Este é o
caso da Caixa Econômica Federal que no ultimo ano abriu um programa de
incentivo a todo time de Futebol que quisesse participar, tais clubes
receberiam o patrocínio da Caixa desde que estivessem em dia com as obrigações
tributarias. A Petrobrás apoia alguns atletas consagrados assim como o banco do
Brasil também o faz.
Tudo isto significa o seguinte, ao
caro Arthur Zanetti e os centena de milhares de atletas que não tiveram a
oportunidade de nascer bem, nem ter amigos poderosos e muito menos padrinhos no
poder publico, vocês estão no Brasil amigos, e aqui é assim que sempre foi e
sempre será, aqui não temos incentivo para a educação, não temos segurança.
Aqui pagamos os impostos mais caros do mundo e se quisermos saúde, temos de
pagar um bom plano, se quisermos educação temos de pagar um bom colégio, se quisermos
segurança temos de blindar o carro e contratar um segurança particular. Lamento
informar ao Zanetti mas as condições sub-humanas que ele enfrenta para treinar
é menos sub-humana que as casas nas encostas dos morros que a cada inicio de
ano fazem centenas de vitimas e são esquecidas até o próximo janeiro. Nada
muda, nada muda se nós não mudarmos e se mudar do país não é a solução, a
solução é dar voz a si mesmo e isto já foi feito.
O que eu gostaria que cada atleta
olímpico brasileiro em 2014 cruzassem os braços, mas isto eles não farão, ser
atleta ainda é melhor que trabalhar numa obra ou num escritório não é? O que eu
gostaria era que patrocinadores apoiassem quem tem talento, seja qual for o
esporte. O que eu gostaria era que 1% de tudo que eu pago em imposto fosse
destinado a programas de incentivo ao esporte, de preferência o meu.
O que eu gostaria era de não ter de
escrever estas coisas, nem ser tão critico em meus comentários, mas não consigo
ser indiferente seja qual for o assunto, as vezes é melhor ser rotulado como o
chato, o negativo, o encrenqueiro do que ver comentários politicamente
corretos, nacionalista do tipo #ficazanetti, escolher uma profissão, seja ela
qual for, é assumir os riscos, péssimas condições de trabalho existem em qualquer
lugar, nas pequenas e nas grandes instituições, se deixar o país, a família em
troca de instalações de primeiro mundo é o melhor a fazer então faça, se não
for fique, e acima de tudo faça o que te faz feliz, estando feliz as
dificuldades desaparecem.
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