Pular para o conteúdo principal

Uma vez piloto de F1, sempre piloto de F1. (parte 1)

 Em busca de respostas para confirmar minha tese de que o termo “ex-piloto de Formula 1” seria meio depreciativo aos pilotos que tanto batalharam para alcançar a verdadeira façanha de pilotar uma maquina que representa nada mais nada menos que o topo, o ultimo degrau da carreira, e que simplesmente após alcançar este topo, só se pode permanecer ou retroceder, cheguei ao óbvio, eu podia entrevistar pilotos, pesquisar em sites ou livros, porem eu vivo em um ambiente onde foi formado um destes pilotos, e mais, toda a minha fonte estava aqui, a minha disposição.
Ao mergulhar nestes documentos, retratos, e relatos pude sentir na pele ainda que por um instante o quanto estes jovens pilotos se entregam desde crianças a um sonho que na maioria das vezes ficam bem longe de se realizar, param pelo caminho, por falta de grana ou de gana. Falo de pessoas conhecidas de todos, meninos que cresceram, são bem sucedidos dentro e fora do automobilismo, mas nunca realizados. Falo de Chico Serra, Ingo Hoffmann, Mauricio Gugelmin, Roberto Pupo Moreno, Ricardo Zonta, Henrique Bernoldi, Antonio Pizzonia, Luciano Burti, Cristiano da Matta e muitos outros, que me perdoem a fraca memória, mas destes muitos, posso dizer que convivo com um, e antes que os meus “admiradores” comecem o coro de “puxa saco”, vou começar colocando aqui na integra as palavras que traduzem o sentimento dele sobre o que tenho a dizer.



 “Ninguém tem idéia do que passei na vida pela minha carreira, nem mesmo meus pais que são os que mais sabem do que vivi, nem mesmo eles sabem por tudo que passei sozinho pra chegar aonde cheguei e tenho muita magoa de não ter sido campeão de F1 que foi o que sempre sonhei e fiz tudo pra isso e infelizmente por erros estratégicos de empresários na época perdi minha chance de talvez poder ser um dia! Mas de qualquer maneira foi valido e sei que mereci tudo porque lutei muito e não fiquei la porque levei dinheiro e sim ganhei por isso!

Muito pouca gente sabe a verdade da minha carreira, que poderia ter sido infinitamente melhor se não fosse feita a opção errada, mas na hora achamos que estávamos certos... coisas da vida!”


Estas palavras são de Tarso Marques, em resposta a um e-mail, também emocionado meu, ao vasculhar documentos, até então sem a permissão dele, mas que no momento em que comecei, tive de comunicá-lo e até mesmo meio que me desculpar em nome de todos que pensam que sabem alguma coisa sobre automobilismo, sabemos dos carros, das equipes, algumas historias e só. Não sabemos nada sobre nenhuma daquelas pessoas por traz do capacete, e as palavras acima me chamaram a atenção pra isto. Prosseguindo com minha pesquisa, encontrei também inúmeras cartas de fãs do Tarso, fãs do mundo inteiro, e o impressionante foi que em meio a centenas de cartas que li, apenas uma ou duas eram de fãs Brasileiros, a maioria esmagadora era de fãs da Alemanha, não me perguntem por quê? E de muitos outros países, Canadá, Estados Unidos, Austrália, Itália, Inglaterra, Portugal, Japão, Áustria entre outros. Então pensei que até mesmo a alegria de receber uma carta de um país distante, pode se tornar frustrante ao passo que pessoas do próprio país não reconhecem o feito de se chegar a Formula 1.
No caso especifico do Tarso, conheço bem a historia, dele e da família, hoje escrevo um livro sobre seu pai, Paulo de Tarso, e sei que desde recém nascido, Tarso era levado aos Autódromos do Sul, ficava no Box, deitado em um “Moises” (tipo de berço) sobre um banco, em meio ao ruído de motores e cheiro de gasolina.
Uma pessoa que nasce num ambiente destes, não quer ser outra coisa na vida a não ser piloto, e pilotando, tudo que quer é chegar a Formula 1, quando chega, e por qualquer motivo não se mantém, a frustração e tão grande que só a própria pessoa sabe e não nos cabe medir.

Encontrei entre outras coisas uma carta escrita de próprio punho de Tarso para Giancarlo Minardi, justamente neste momento de frustração, após ter sido dispensado da Equipe para dar lugar a algum piloto pagante, em um italiano ruim, mais de um cavalheirismo enorme, ele agradece a oportunidade de ter realizado o sonho de pilotar um Formula 1.

Vi, toquei cada uma das carteirinhas de piloto desde o Kart até a superlicença da FIA, só este pedaço de papel já poderia ser emoldurado e pendurado na parede.

Mas para nos Brasileiros, é preciso ser Senna, ser Emerson ou Piquet não basta, muito menos ser Zonta, Moreno, Serra e tantos outros. Nós Brasileiros não aceitamos nada menos que a morte no exercício da profissão para dar valor a um piloto, pois ser piloto não basta, pilotar um Formula 1 é pouco, é muito pouco. Usamos o termo ex-piloto de F1 como se estivéssemos falando de um ex-participante do BBB.
Enquanto lá fora fãs do mundo inteiro até hoje se lembram de mandar um cartão de natal, de aniversario, aqui datas de títulos mundiais tem apenas uma pequena nota relembrando o feito, aqui Emerson Fittipaldi passa quase despercebido em um Shopping ou Supermercado ao passo que nos Estados Unidos é tratado como uma celebridade semelhante aos atores de cinema.
Não temos memória, não temos respeito, nossa imprensa especializada em apenas dar resultados de grid final de corridas, também só da valor aos resultados, e resultados para nos infelizmente é pódio ou nada. Levar uma Minardi ao nono lugar em Interlagos é muito pouco, segurar a McLaren de Coulthard por meia corrida a bordo de uma Arrows no GP de Mônaco é muito pouco, permanecer dezenove anos na Formula 1, como Rubens, não basta, é preciso ser campeão, e ainda não é o bastante, no Brasil, piloto de formula 1 tem de morrer como Senna, senão, será apenas mais um... (continua).

Postagens mais visitadas deste blog

Quanto Custa? Parte 1: Formula 1600, Formula Inter e Formula 3.

Qualquer piloto que ingresse no Kart, com raras exceções, tem como objetivo uma carreira no automobilismo, num primeiro momento não há piloto jovem ou pai de piloto que não tenha se imaginado, ou imaginado o filho, chegando a Formula 1. Lamento dizer, mas este sonho se torna cada vez mais difícil de alcançar e por muitos motivos. Um deles é a falta de planejamento e de alternativas que devem ser pensadas já no inicio da carreira no Kart.  Pais, managers e treinadores devem ter em mente e passar isso ao piloto, que embora o sonho seja a Formula 1, existem outras categorias espalhadas pelo mundo onde se pode ser profissional e viver de automobilismo, e mesmo seguindo com o sonho de chegar ao topo, existem etapas que devem ser respeitadas ainda dentro do automobilismo nacional a fim de ganhar experiência e progredir de maneira que cada degrau seja vencido rumo ao objetivo traçado. Nesta primeira parte, vamos mostrar algumas alternativas para quem pretende seguir carreira no automob

Piloto é Atleta?

Como sempre, um assunto é noticiado, o sensacionalismo é feito, a pseudo “imprensa” acompanha, porem pra cada fato novo, cada morte nas pistas, cada burrada da Confederação, é bem comum os “jornalistas” apontarem um fato, focarem no acontecido e bater na mesma tecla até aparecer outro fato. O difícil é ver alguém disposto a discutir fatos, dar soluções levantar questões. O assunto da ultima semana foi um novo caso de doping no Automobilismo, mais não parece estranho o próprio termo “doping no automobilismo”? Pouca gente sabe, e os sensacionalistas se “esquecem” de explicar que as leis anti-doping mundiais, as quais a FIA e CBA obedecem, foram criadas para impedir que “atletas”, pudessem levar vantagem em competições sobre outros “atletas”, através do uso de substancias que de alguma forma, aumentem a resistência ou potencia física. Atleta: 1 Pessoa dedicada a pratica de exercícios físicos; ginasta. 2 pessoa que pratica esportes, jogador; esportista. 3 pessoa robusta. (Dicionário Luf

William Starostik: suspenso por 30 dias.

O ultimo comunicado da CBA, convocando empresas para Promover o Campeonato de Caminhões causou tanto alvoroço que outro comunicado, este do STJD, acabou passando quase despercebido. Segue comunicado: O que me estranha em todos estes casos de doping, e não são poucos, é que as punições quase sempre vêm em períodos de recesso dos campeonatos ou em que o Piloto em questão não esta disputando campeonato algum. Chamam isto de afastamento preventivo, tudo bem, pode ser que estejam esperando a contraprova para realmente atestar uso de substância indevida. Mas e se a contraprova der negativo? Neste caso o piloto já foi exposto, porem e se realmente for atestado positivo. Já que os trinta dias de afastamento contam na pena principal, que pode ser de 1 a 12 meses. Digamos que a pena fosse de 1 mês de afastamento, então o piloto já a teria cumprido durante o afastamento preventivo certo? Aí eu pergunto; Tem campeonato Brasileiro de Marcas rolando durante estes trinta