Como explicar a sensação de um
piloto que desde o Kart sonha e finalmente chega a Formula 1? Talvez as
palavras de Emerson Fittipaldi sejam a tradução perfeita. “Alinhei na ultima fila, ao lado
de Graham Hill, que era meu ídolo de infância. Se morresse naquele momento, eu
morreria feliz, pois estava realizando o sonho de alinhar em um grande premio
de Formula 1”. Nesta época mal sabia ele que se tornaria bi-campeão
mundial, mas da pra imaginar que ter chegado a Formula 1, foi tão, ou mais
emocionante que as conquistas, não mais importante e sim mais emocionante
porque se chega muito jovem e cheio de sonhos.
Não há exagero em dizer que
poderia morrer neste momento, como disse Emerson, pois se está alcançando o
topo entre as categorias de automobilismo espalhadas pelo mundo, e cada volta
dada a mais em uma pista de Kart quando o pai já dizia chega, valeu à pena,
cada domingo em que os amigos se divertiam em passeios, enquanto ele estava na
pista, cada sábado de balada, trocado pelo sono em véspera de corrida, tudo
isso valeu a pena. Ainda que se tenha pagado para entrar na categoria, como é
comum nos dias de hoje, cada centavo pago vale à pena.
Infelizmente, toda esta emoção
que um piloto sente neste momento único do primeiro GP de Formula 1 não é
compartilhada pela maioria dos espectadores e mídia, a responsabilidade
colocada em cada piloto que chega é muito semelhante a que colocamos em nossa
seleção de futebol, e por sermos o país do futebol, não aceitamos nada menos
que a vitoria.
O ídolo maior do nosso
automobilismo, não é Emerson Fittipaldi e tão pouco Nelson Piquet, e sim a
pessoa que soube entender e explorar este sentimento brasileiro de como no
futebol, “representar” o país, quando a seleção conquista uma copa do mundo,
costumamos dizer que nós, o povo, o país, somos campeões, e Airton Senna a cada
vitoria nos fazia sentir vencedores também ao levantar a bandeira do Brasil. Porem,
foi também ele o ultimo piloto a nos dar orgulho de ver sua estréia, depois
dele estreou Barrichello, e muitos outros, mas a esta altura os holofotes já estavam
direcionados todos para Senna. Começou aí todo nosso desinteresse por qualquer
piloto que não fosse ele, a ponto de esquecer a qualidade indiscutível de Prost,
o próprio heptacampeão Michael Schumacher até então era simplesmente ninguém,
pelo menos para nos brasileiros e diria que para boa parte do mundo.
Não podemos dizer que se Senna
estivesse vivo, seria o ídolo que se tornou depois de morto, mas posso afirmar
que onde quer que ele esteja Airton sente vergonha até hoje a cada vez que o
nome de Roland Ratzenberger é ignorado ao mesmo tempo em que sua morte é
lamentada. Afinal, lamentar por quê? A morte de um tri-campeão, e mais triste
que a de um piloto que não somou nenhum ponto? A família de Senna chorou mais
que a família de Roland?
A maior injustiça do esporte a
motor, só existe por conta de resultados, e por sermos, todos, injustos com todos
os que apenas chegam e não se destacam, as mesmas corridas de kart que Senna fez,
Ratzenberger também o fez, assim como Diniz, Moreno, Marques, Di Grassi, Bernoldi,
Serra, Hoffman e muitos outros fizeram, as mesmas categorias de acesso a
Formula 1, todos fizeram, será que alguém já chegou a Formula 1 sem ter se
esforçado? Será que alguém já nasceu com a superlicença da FIA, ao invés da
certidão de nascimento?
Se você respondeu não às perguntas
acima, pense duas vezes antes de usar o termo “ex-piloto de formula 1”, pense
apenas que seu médico nunca será um ex-medico, ele será no máximo um medico
aposentado, ele aprendeu a medicina, estudou, se preparou a juventude toda para
ser medico, assim como um piloto o fez, mesmo um medico aposentado pode voltar
a clinicar, e mesmo um piloto aposentado, como Schumacher, pode voltar a pilotar
se tiver motivação e físico para isto.
Não existe ex-medico, ex-advogado,
ex-padeiro, ex-pedreiro, assim como não existe ex-piloto, muito menos “ex-piloto
de formula 1”.
Uma vez piloto de F1, sempre
piloto de F1.
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