Estaria o automobilismo brasileiro acabando?
Dias atrás, republiquei um antigo artigo,
perdão pelo trava língua, intitulado "Automobilismo, esporte de exceções", este artigo era uma reflexão bem particular sobre o,
por que, do nosso esporte estar em baixa, seja nas competições internacionais,
seja na mídia e até mesmo pelo esvaziamento de publico nas praças
automobilísticas. Este artigo havia sido escrito em 2013 ou 2014, já nem lembro
mais. Pois bem, republiquei por notar que nos dias de hoje as coisas que não
continuam as mesmas, até pioraram.
Mas de que valeria apenas a minha opinião? O
automobilismo, embora tenha nos pilotos o protagonista, é um esporte coletivo,
e não caberia expressar a opinião de uma só pessoa, no caso eu, pensando nisso,
convidei algumas pessoas cujos nomes ao serem mencionados os leitores
automaticamente associarão com o esporte, mais do que isso, associarão tais
opiniões ao conhecimento de causa, formação de opinião e acima de tudo
credibilidade nos comentários.
Imagine uma seleção
automobilística contendo os seguintes nomes; Átila Abreu, Djalma Fogaça,
Christiano Bornemann, Eduardo Homem de Mello, João Abreu, Luciano Zangirolami,
Marcos Tokarski, Mico Juan Carlos Lopez, Milton Sperafico, Oscar Chanoski,
Rafael Lupatini, Raphael Figueiredo, Rodrigo Sperafico, Thiago Marques, Waldner
“Dadai”, Washington Bezerra e William Ayer. Se ao ler estes nomes você não
reconheceu pelo menos dez, me desculpe, o seu conhecimento sobre automobilismo
é abaixo da media, mas a grande maioria já sabe que a partir desta matéria
algumas respostas e sugestões ficarão aqui arquivadas para contribuir de alguma
forma para, quem sabe, criar mais discussões e acima de tudo, ações passarem a
ser tomadas com base nestes depoimentos de suma importância para nosso esporte.
Todos os convidados leram o
artigo anterior, e gostaria que você que ainda não leu também o fizesse, pois
todos os comentários dos convidados foram baseados nele.
Os depoimentos estão resumidos
por motivos óbvios, somados na integra dariam um livro, mãos fiquem tranquilos,
todos os depoimentos serão exibidos em sua totalidade já em seguida, até para
fonte de pesquisa posterior sobre o assunto.
A pergunta essencial que queremos descobrir ao
final é; O automobilismo no Brasil esta acabando?
O Automobilismo não está
acabando, esta se transformando. Categorias caras estão dando espaço a outras
com menor custo, como por exemplo, o Rally Cross que é montado em espaços
pequenos como estacionamentos e campos de Futebol, e também divide espaço com
outros esportes como é nos X Games aonde o automobilismo divide espaço com
skatboard, moto, BMX e outros.
A Paixão pelo automobilismo é
maior que qualquer crise financeira, e sempre trará retorno aos patrocinadores
que continuam fortes e determinados. Como já disse, esta apenas passando por um
período de transformação de onde sairá mais forte do que nunca.
(João Abreu)
A situação do automobilismo
nacional esta bastante critica, e isso atinge todas as categorias, um exemplo é
a Formula Truck que segue indefinida na briga entre o promotor e a CBA.
A nível regional o campeonato
paranaense de velocidade na terra também esta sem nenhuma definição, visto que
o atual promotor desistiu de promover a competição este ano. Vamos torcer para
que a Federação tenha algum plano para que o campeonato seja realizado.
Já em relação ao Rally, as
perspectivas não são as melhores em termos de grid, mas ao menos deveremos ter
campeonato, tanto o paranaense quanto o brasileiro. Mas mesmo assim continuamos
anos luz atrás em relação aos nossos vizinhos Argentina e Paraguai, os quais
contam com bastante facilidade para trazer carros de ponta da Europa e, não
raro, contam com 100 carros por etapa em seus campeonatos nacionais.
(Marcos Tokarski)
Regii, li seu texto e de uma
forma muito clara você expôs tudo que o automobilismo sofre e tem sofrido nos
últimos anos e isso contribui para o que se imagina ser o fim do esporte. Em
minha opinião dois personagens incompetentes tem culpa direta nessa crise,
Dilma e Pinteiro. Dilma quebrou o país e o Pinteiro, que não tem a menor noção
do que seja automobilismo de competição, enfiou o esporte num buraco profundo.
Na gestão de Pinteiro o automobilismo retrocedeu pelo menos uns 20 anos e ainda
por cima sofreu denuncias de uso indevido de cartão corporativo. Juntando os
fatores Dilma, Pinteiro, denuncias, incompetência na gestão, não fica difícil
entender o problema do esporte. O esporte é caríssimo, e se levamos em
consideração que a Williams se rendeu ao dinheiro de piloto pagante, é sinal
que estamos próximos do fim.
(Eduardo Homem de Mello)
Em lugar de falar dos motivos que
levaram o automobilismo ao fundo do poço, prefiro falar um pouquinho daquilo
que poderia ser feito, para que ele retome seu papel mais importante que é
interagir com mercados, por consequência beneficiar-se da geração de empregos
sustentáveis e na sequencia do fortalecimento, buscar a vanguarda que tanto já nos
orgulhou.
(Oscar Chanoski)
Realmente temos que mudar muita
coisa, todos nos estamos passando por um momento inédito de mudanças drásticas
no país, teríamos que aproveitar isto para reprogramar o rumo do automobilismo
brasileiro.
(Mico Juan Carlos Lopez)
A visão que eu tenho ela é um
pouco diferente, porque eu não acho que é o automobilismo que esta morrendo, eu
acho que é o esporte no Brasil que esta morrendo, eu fico indignado quando vejo um país do tamanho do Brasil, com proporções territoriais onde um país
Europeu é do tamanho de um estado do Brasil, e numa Olimpíadas, um país como a
Alemanha que tem o tamanho de alguns de nossos estados, consegue muito mais
medalhas que nosso país todo.
Um exemplo, Autódromo de
Jacarepaguá, ok, foi destruído, todos nós do automobilismo ficamos indignados
com isso, mas foi feito um Parque Olímpico do qual outras diversas modalidades
poderiam usufruir daquilo no futuro, se isso fosse verdade até seria aceitável
perder o autódromo pensando no legado que isso deixaria, mas a gente viu
recentemente numa matéria na Globo que o Parque Olímpico ta jogado às traças, a
piscina virou criadouro de dengue, totalmente largado, abriram o parque ao público
e ficaram todos indignados, então é isso que acontece, tudo no nosso país
começa e para na metade, diversos escândalos financeiros corrupção e tudo mais
e as coisas vão ficando pelo caminho. E no automobilismo acaba não sendo
diferente, a gente teve alguns casos aí da CBA, recentemente, envolvida em
escândalos de corrupção, que denigre a imagem, mas não é nenhuma novidade,
porque vários outros esportes também se encontram na mesma situação, e a gente
precisa de alguém que realmente resolva por um ponto final nisso.
(Átila Abreu)
A nível regional o esporte não
anda bem principalmente por que existem alguns fatores que prejudicam e muito o
esporte a motor a nível regional, estadual e nacional, a partir do momento que
você forma cartéis é muito difícil você conseguir voltar atrás, recuperar o
prestigio e a popularidade, toda forma de cartel ou monopólio prejudica
qualquer tipo de atividade.
O automobilismo esta falido,
estamos à beira de perder a Formula Truck, estão querendo dividir a categoria e
tudo que divide complica, nos temos que somar e não dividir.
(Rafael Lupatini)
Eu não vejo o automobilismo
acabando, eu não enxergo dessa maneira até porque muita gente já pegou o
automobilismo numa fase muito boa dele, eu estou a 35 anos nesse esporte, eu talvez
seja uma exceção nisso, meu pai não era rico, eu tinha 19 anos quando comecei a
correr.
(Djalma Fogaça)
O que posso dizer é que o
automobilismo assim como outros esportes, não vai ter vez no país do futebol,
nunca, mas algumas coisas chamam a atenção sim, passar um dia nas arquibancadas
de concreto no AIC (Autódromo Internacional de Curitiba) deve ser horrível para
uma criança, não ter uma área de camping naquele espaço todo é um desperdício, e
depois de queimar o filme fica difícil de reconquistar, hoje nem de graça o
povo comparece.
Já a terra tem custos mais
baratos e disponibiliza áreas para o povão, mas é descriminada pois os carros
são feios, sujeira, lama, os playboys não curtem.
Prefiro mil vezes uma corrida em
Joaçaba-SC, na terra com 8 mil pagantes do que uma de asfalto que não tem
publico.
Regulamentos diferentes para metropolitanos
não fortalecem um estadual, que não fortalecem um brasileiro.
(Christiano Bornemann)
Hoje nosso automobilismo se resume em oportunidades para os mesmo de sempre, as categorias chamadas TOPs, a cada ano mais competitivas, mais tecnológicas e mais caras, e vemos sempre os mesmos pilotos, a diferença é que alguns mudam de equipes, mas a roda é a mesma. Dificilmente se vê um jovem talento com oportunidade, não existe um programa de planejamento e desenvolvimento como existe na Europa e EUA.
Antes aqui no Brasil, os pilotos sonhavam em disputar categorias que fossem na Europa, mas os custos eram impraticáveis, hoje o inverso acontece, somos o país com o Km rodado de pista mais caro do mundo, e com isso, Europa e EUA passam a ser países com mais atrativos, alem da falta de oportunidade, planejamento e desenvolvimento que citei anteriormente.
(William Ayer)
O Objetivo aqui não é apenas
criticar ou tecer elogios, mas sim buscar opiniões seguidas de sugestões para
que tais críticas não se tornassem vazias, então, se chagamos a conclusão de que
o automobilismo não vive seus melhores momentos, o que fazer para retornar a
uma condição aceitável deste esporte:
Eu acho que a gente precisa mudar
a cultura do país, a gente precisa aprender a planejar as coisas a longo prazo,
só assim a gente vai decolar como nação, o Brasil tem uma capacidade tremenda
dentro do esporte e outras áreas, porem a gente não consegue diante de toa a
burocracia e diante desse cenário que a gente se encontra.
A Stock Car, ela obviamente é a
maior categoria do automobilismo brasileiro, ela não está no seu auge, como
esteve cinco, seis anos atrás, mas obviamente ela esta longe de estar numa
situação como se encontra a Formula Truck hoje, mas a Stock Car vive grandes
dificuldades por decisões erradas tomadas lá atrás, o evento precisa melhorar,
o evento precisa se reinventar, eu estou já há nove anos na categoria e
diversas ações que eram feitas quando eu entrei na categoria são mantidas até
hoje e isso gera pouca atratividade, precisa inovar. Eu vim agora no começo do
ano aqui nos EUA, fiz um tour ali em Charllote, conheci algumas equipes de
Nascar, olhei um pouco da estrutura, fui a outros eventos como a NBA, enfim,
olhando um pouco para tentar ter ideias e tentar trazer isso para o nosso
esporte, to fazendo um Lounge numa carreta para que eu possa entregar isso como
ativação para os meus patrocinadores, tenho carros de exposição e estou sempre
tentando criar uma situação nova, fazer um atrativo novo pra que cada ano a
gente possa oferecer algo diferente e trazendo estas novidades aos
patrocinadores e a categoria por sua vez precisa fazer o mesmo.
(Átila Abreu)
Para começar precisamos de um
representante no governo para defender o automobilismo, não tem muito que
inventar e sim copiar coisas que deram certo, como na Argentina que o governo
tira um leve percentual do importo das montadoras e repassa ao esporte a motor,
mas isto bem acompanhado por projetos fiscalizados e controlados de forma que a
corrupção seja a ultima a estar nos boxes.
A mentalidade tem que mudar, na
Argentina os promotores correm atrás de patrocínios para serem divididos entre
as equipes, para que as equipes tenham condições de chegar à pista com igual
condições que as outras e assim por diante.
Na parte de jovens pilotos, se
houver um planejamento correto, podemos concorrer sim no automobilismo mundial
em igualdade de condições, se não financeiras, pelo menos técnicas.
(Mico Juan Carlos Lopez)
Entendo que para retomar o
caminho do sucesso, se faz necessário, inicialmente uma grade reforma de
conceitos. Vejo absolutamente todos eles fora de lugar. A meu ver, qualquer
esporte demanda de uma estrutura organizacional, que deve invariavelmente contar
com CABEÇA, TRONCO E MEMBROS. Esta ordem infelizmente foi atirada ao vento ao
passar dos anos.
A meu ver que chamo de CABEÇA são
os donos dos ativos. Sim aqueles que colocam seu capital em risco e buscam seu
espaço para remunerar seus investimentos. No caso de nosso esporte, me refiro
aos donos de equipes. Não os vejo como heróis, mas sim como empresários do
ramo, eles são os CABEÇAS de tudo, é da iniciativa deles que sobrevive um
automobilismo em que “hoje” poucos acreditam.
O TRONCO para mim são os
patrocinadores e a mídia, os vejo limitados a pouco espaço dentro dos eventos,
sem estes dois motores de impulsão, devidamente reconhecidos, nada ganha corpo
neste esporte, tudo será sonho e zero de sustentabilidade.
Os MEMBROS, vejo os Pilotos,
Promotores e a CBA, mas na minha visão, cada um deveria limitar-se a aquilo que
a lógica e a hierarquia lhes confere.
(Oscar Chanoski)
Acho que a culpa do automobilismo
estar assim não é do Brasil, você sabe mais do que ninguém, a gente sempre
passou por crises, acho que a gente tem que fazer o nosso próprio mundo dentro
do Brasil.
Não adianta a gente continuar pensando da mesma maneira, vamos
pensar um pouco diferente, todas as categorias do mundo, seja através de liga
ou de federações, não importa, as que dão certo são as que pensam diferente, um
bom exemplo é a Nascar, a Nascar esta diferente a cada ano, o formato, pra manter
o custo baixo na Nascar, o custo operacional se mantém há anos, mas a imagem da
categoria e os diferenciais que ela oferece dentro dos Estados Unidos é uma
coisa impressionante, cada ano vai mudando, evoluindo o formato vai se
adequando conforme o mundo vai mudando.
(Luciano Zangirolami)
Meu ponto de vista, acho que o
principal desenvolvimento que a gente poderia ter seriam leis de incentivo
governamentais, não acho que deva partir especificamente de CBA, não culpo a
CBA pelo insucesso do automobilismo. Eu acho que se o nosso país tivesse leis
de incentivo, como tem na Argentina, as montadoras se envolverem com o
automobilismo através de leis de incentivo, eu acho que este seria um grande passo,
o maior passo para o automobilismo se desenvolver.
(Thiago Marques)
Felizmente ainda existem pessoas
que apostam neste esporte. A Própria Formula Inter é um bom exemplo disso,
entrega um equipamento de primeira a um custo realmente baixo, auxilia os
pilotos a conseguirem apoiadores para viver do automobilismo e ainda abre vagas
especiais para pilotos sem recursos financeiros. Isto é prova de que ainda
existe uma luz no fim do túnel e se houver interesse e boa vontade podemos
virar esse jogo, talvez esta mesma boa vontade nas pessoas que estão na dianteira
do esporte a motor seja o segredo para uma profunda mudança no cenário atual.
(Raphael Figueiredo)
Talvez um ponto convergente em
todos os debates sobre automobilismo sejam as chamadas categorias de base,
todos nos concordamos que sem uma boa base não chegaremos a lugar nenhum, é
preciso entender também que nos dias de hoje, entrar no automobilismo visando a
Formula 1 é um sonho cada vez mais distante, isso não só para nos brasileiros,
como para jovens de toda parte do mundo, arrisco a dizer que entrar no
automobilismo visando à própria Stock Car hoje em dia já é muito difícil, o que
existe é um funil com uma imensa entrada e uma saída cada vez mais apertada,
são centenas de pilotos hoje no Kart com objetivos claros na carreira de chegar
a alguma categoria em que o grid gira em torno de 20 ou no Maximo 30 carros. Entre
o kart e o objetivo final, existem poucas opções para realmente preparar bem um
jovem piloto e algumas delas muita caras, outro problema é que hoje em dia
quase nenhuma categoria permite treinos e como preparar um piloto sem treiná-lo? Categorias de base, treinos e custos, também foram
analisados pelos nossos convidados.
Na minha época as dificuldades
não eram tão grandes, mas meu pai já teve a brilhante ideia de botar os dois no
automobilismo (Ricardo Sperafico é irmão gêmeo de Rodrigo), já foi um grande
pepino. Por aqui existia a Formula Ford, Formula Chevrolet e a Formula 3
Sul-americana. Mas optamos em pular estas etapas e fomos fazer um campeonato de
inverno de Formula Ford Inglesa, isso em 96, 97. Pra se ter ideia era uma época
que todo mundo estava desbravando a Inglaterra, nos morávamos em 14, 15 pessoas
na Inglaterra, era eu, meu irmão, o Max Wilson, Ricardo Mauricio, Hover Orsi,
Vitor Meira, todo mundo chegando era um momento fantástico. Então tanto aqui,
quanto lá fora tínhamos varias categorias preparatórias.
(Rodrigo Sperafico)
Nós temos e vamos apresentar
ainda este ano um projeto que esta sendo elaborado e que devera reestruturar a
F3, não só nas pistas como também na preparação dos pilotos desta categoria,
como uma academia de pilotos.
Outra medida que posso adiantar,
é que estamos tentando viabilizar a F4, mas este projeto ainda esta em
andamento.
(Waldner “Dadai”)
Nosso projeto era retomar as
categorias que já existiam, Formula Ford, Volkswagen, Formula Chevrolet,
Formula Renault etc. Regionalizar e depois reunir todos os estados e fazer um
Brasileiro em uma semana.
(Milton Sperafico)
Regii, o texto é muito bom, mas
você esqueceu o principal, treinos. Hoje para beneficiar alguém, não se pode
treinar, como um jovem piloto pode competir em igualdade de condições com os
pilotos veteranos ou mais experientes?
Você pode falar que o Felipe Fraga é
jovem, mas ele já esteve na Europa correndo de Formula e participou no nosso
time de BMW durante mais de um ano, e lógico que nos treinamos bastante.
(Washington Bezerra)
Kartódromos tem diversos pelo
país, bons, médios e ruins, e até o Kartódromo ruim por incrível que pareça,
uma pista ruim pode ser um bom aprendizado, então na parte de base de Kart a
gente ta bem apesar dos custos altos, o automobilismo desde a base é muito
caro, você anda na rua e vê uma criança e pensa, de repente esse menino poderia
ter o talento de um Ayrton Senna, mas isso a gente nunca vai saber se ele teria
capacidade de ser um piloto diferenciado ou não, porque não tem condições nem
de gastar para sentar num Kart in door.
Para Sprint aumentar o grid e
melhorar como preparação dos pilotos, é ter um envolvimento maior com o Kart,
eu tenho um envolvimento razoável, já conversei até com o presidente eleito da
CBA e estamos com bons planos pra desenvolvimento do Kartismo para o carro e
sem duvida o Sprint é o ideal pra isso, não é por que o produto é meu, mas não
tem nada nem perto dele como escola, como o primeiro passo, primeiro que ele é
um carro que serve pra turismo e pra formula, porque a posição do piloto é no
nomeio do carro, o centro de gravidade é no chão praticamente, é muito parecido
com um formula e ao mesmo tempo é um carro de turismo, então serve pros dois, a
gente tem pilotos que vão fazer carreira de formula e que deram os primeiros
passos no Sprint e saem de lá valorizando e reconhecendo que fizeram o certo.
(Thiago Marques)
Eu estou aprendendo muito com a
Formula Inter, por incrível que pareça, por que, o Marcos que é o proprietário,
ele se dedicou e estudou durante um ano todo o automobilismo americano, a
Nascar e a Indy, e encontrou uma Formula. É um cara que pensa fora da caixinha,
em minha opinião e aprendendo muito com ele, ele vem fazendo um automobilismo acessível
e o mais importante que nunca ninguém fez, profissional, no que diz respeito a
acesso, a ideologia é de ele manter estes custos em 14 mil reais e botar 60
carros no grid.
(Luciano Zangirolami)
Hoje, ainda o nosso Kart é uma
das melhores escola do mundo, a única coisa é que se você vai fazer um mundial,
tem que ter um período de adaptação, mas só, as oportunidades lá são maiores,
cada pais tem 15 pistas, lá existem diversas categorias, hoje no Brasil o
piloto vai sair do kart, ele só tem uma categoria como objetivo, que é a Stock
Car, não tem mais aquela perspectiva de fazer três, cinco campeonatos visando
uma Formula 1 que é quase impossível, a maioria no Brasil não tem esta
perspectiva e a Stock Car hoje é o que temos no Brasil em termos de
profissional.
(Rodrigo Sperafico)
Vejo muitas matérias e esforços
na criação de escolas de Kart, e demais categorias de base, mas sempre me
pergunto quando vejo tais iniciativas, não há uma estrutura organizacional clara,
acho que as iniciativas são louváveis, porem tudo isso só fluirá naturalmente
quando o Mundo Motor voltar a sentir confiança. Formar pilotos para que? Se não
há organograma funcional claro, não temos porque formar pilotos com este
horizonte em plena UTI.
(Oscar Chanoski)
As categorias de base não tem
apoio, e quem deveria fazer isso seria a Confederação, através de incentivo,
existem outros países, como a Alemanha, onde a Federação tem suas categorias de
base e a própria federação acaba criando algum centro de desenvolvimento em
trabalho com as montadoras e tudo isso gera receita para que se apoie e
incentive o esporte, e nesse caso, o automobilismo desde cedo.
(Átila Abreu)
Hoje no Brasil contamos com duas
categorias que podemos chamar de profissionais, porem, toda essa
profissionalização acabou sendo confundida com elitização do esporte, não que esperemos
que os custos para frequentar uma Stock Car ou uma Formula Truck devessem ser “populares”,
mas raciocine comigo, o custo de um mesmo motor usado hoje na Stock Car é de
aproximadamente 50 mil reais, isso para compra no mercado exterior, o mesmo
motor hoje em dia é alugado por etapa da Stock Car por aproximadamente 15 mil
reais, é lógico que tem alguma coisa que não bate, e este é só um exemplo, isso
mostra que estas categorias hoje consideradas top, estão bem longe da realidade,
e fica claro que fazer automobilismo no Brasil é mais caro que fazer na Europa.
Alem disso problemas de administração estão levando a Categoria mais popular do
nosso automobilismo a uma eminente extinção:
Os custos para fazer
automobilismo na Europa é quase igual no Brasil, um campeonato de Blancpain GT3,
por 1.600,000,00 euros, tem 10 corridas sendo 5 Sprint com duas corridas de uma
hora por fim de semana e 5 de Endurance com três horas de duração, uma de seis
horas e as 24h de Spa. No cambio de hoje daria mais ou menos 5.300.000,00 reais
(dois carros). Só que você corre em Monza, Paul Ricard, Silverstone, Brands
Hatch, Nurburgring, Hungaroring, Barcelona, Russia, Azerbaijão, Slovaqui,
Misano e por ai vai. E com os melhores carros, podendo treinar quando quiser,
são seis jogos de pneus na primeira prova e quatro na segunda. Se você analisar
o numero de horas do campeonato e treinos, é quatro vezes maior que o que anda
na Stock. Então é mais barato correr lá.
(Washington Bezerra)
Vamos falar da Stock Car que é a
maior categoria do nosso automobilismo, em 2008 tinham uns 50 carros, Rede
Globo ao vivo em todas as etapas e custava R$ 1.200.000,00, hoje, é transmitida
pelo Sportv, e só aí nos estamos falando em 10 pontos a menos de audiência, e
hoje custa R$ 3.000.000,00 para ser competitivo, ou seja, 10 vezes menos de
audiência, custando três vezes mais, é uma conta que não bate para um
empresário para o qual você irá pedir patrocínio. Não existe mais patrocínio
hoje em automobilismo, como faz ali a CIMED e a EUROFARMA, são empresas de
pessoas apaixonadas por corrida, nenhum deles sonha que terão retorno de mídia
que cubra 3 milhões num carro, isso ai não existe, antes podia até ter uma
chance de cobrir, mas hoje no formato que está, com 10 vezes menos de audiência
e custando três vezes mais, a conta simplesmente não bate. Então hoje tem os
dois apaixonados ali, que eu já citei, que tem meia dúzia de carros na
categoria e que sustentam ali a principal categoria nacional, no dia em que
eles acordarem de mau humor e resolverem parar com corrida acaba aí a Stock
Car, provavelmente né, pelo menos ira sentir muito, como já vem sentindo ano a
ano, trocando pilotos profissionais por pilotos ricos pagantes, isso acontece
todo ano dês de 2008, cai dois, entre dois, então este é bem o resumo do nosso
automobilismo é o que se passa na Stock Car.
A Porsche se você levar em conta,
pô estamos falando de um Porsche um carro que custa 400 mil euros, como que uma
categoria de Porsche custa 800 mil reais e a Stock Car que é um carro montado
que vira mais lento que o Porsche é mais perigoso em termos de segurança custa
quatro vezes mais? Aí tem falha em quem ta organizando o negocio né, pra
encarecer o negocio desse jeito.
(Thiago Marques)
O Período que voltamos para o
Brasil em 2003 a 2006, o Brasil descobriu a Stock Car, começou uma renovação na
categoria e começou a voltar todo mundo de fora, com talento, conhecimento e
experiência, foi um momento muito bom, todo mundo se divertia, a Stock Car estava
se tornando muito profissional, e nos acabamos profissionalizando mais ela, trazendo
coisas da Europa, mas chegou a um ponto que a coisa ficou tão profissional que
começou a ficar cara, acabou ficando inviável pra muita gente, tanto é que
muita gente abriu mão de correr.
(Rodrigo Sperafico)
Hoje a Stock Car sofre muito por
questões do passado, exemplo, hoje a Shell se quiser fazer um camarote, que
custa lá seus 40 mil reais para você levar até 70 pessoas, você pode envelopar
tudo com a sua marca, uma Shell não pode colocar sua marca do lado de fora, por
que a Petrobrás é patrocinadora do evento e veta tudo isso, então acho assim,
ok, para a VICAR é interessante ter uma Petrobrás patrocinando o Evento, faz
total sentido, mas as outras empresas petrolíferas não podem usufruir de outras
propriedades, eu acho assim, que a VICAR vende uma propriedade de fornecedora
oficial com patrocínio para a Petrobrás, mas você não pode impedir que outras
empresas façam, vide a Nascar, lá cada propriedade é vendida para uma empresa e
estas empresas as vezes são concorrentes entre si, mas é isto que faz fomentar,
se eu crio uma ativação interessante, ou o meu concorrente cria algo
interessante, para eu superar ele, eu preciso fazer algo ainda melhor, só que
hoje a VICAR não deixa que isso aconteça, ela vai te bloqueando cada vez mais e
isso incentiva a fazer menos, isso precisa mudar, eu já conversei com eles,
lógico, o que foi feito no passado foi feito errado, mas se não se colocar um
ponto final hoje, a gente vai sofrer com isso pelo resto da vida, as coisas
precisam mudar, se foi feito errado no passado, precisa ser corrigido. Eu acho
que é esse pensamento que a gente precisa mudar, se reinventar, se desapegar de
algumas coisas que foram criadas no passado, algumas filosofias até porque o
mundo e toda a tecnologia envolvida esta mudando constantemente e se a gente
não se reinventar, se a gente não ficar acompanhando todo o tempo, a gente fica
para trás e ficando para trás o futuro a gente já sabe, é se tornar cada vez
pior, uma categoria cada vez menor, com menos expressão dentro do cenário
nacional, então eu batalho muito por isso e acredito muito que a gente vai
sair, mas tem que ser um trabalho conjunto, não é uma pessoas só que vai fazer.
(Átila Abreu)
Hoje um pneu custa sete, oito mil
reais, em qualquer categoria aí, isso é um absurdo, só que este pneu não custa
isso, na realidade todo mundo tem um pedaço dele entendeu? Em cada jogo de pneu
você vê ai seis, sete bocas mamando na teta, antigamente não tinha isso, o
automobilismo não era um negocio que o cara só via dinheiro na frente. Hoje
todo mundo tem uma mordida, no pneu, no motor, no combustível, é na inscrição,
é no clube, todo lugar é uma mordida forte sabe. Ai vou mais adiante, quando eu
fui para a Formula 3, no ultimo ano que eu andei, eu tinha equipe própria, a
gente viajava aí com pouca grana, com 5 mil dólares por mês você fazia uma
etapa, hoje com 5 mil dólares você não compra um jogo de pneu da etapa, então
estas coisas é que tem que buscar o que esta errado. Então é difícil você mensurar
tudo isso, onde está, onde se perdeu, o que aconteceu.
(Djalma Fogaça)
Quantas equipes de Stock Car
existem hoje em São Paulo? Somente uma, quando desde sua formação São Paulo era
o berço da Stock Car, com pelo menos oito equipes e sete preparadores de motor.
Eles mataram todas as nossas equipes com este regulamento de um único
preparador, tornaram os preparadores engessados com regulamentos onde quase
nada pode ser mexido no carro.
(Washington Bezerra)
A Formula Truck hoje passa por
diversos problemas, você vê hoje uma categoria rachada, simplesmente porque
esta sendo gerida por uma pessoa que não conhece nada da promoção do evento, e
a Formula Truck sempre teve as suas particularidades, muitas destas
particularidades foram criadas a vinte anos atrás e hoje não servem mais, então
foi uma categoria que não se modernizou, ficou para trás, com regras antigas, e
mesmo assim hoje eu ainda te falo que ela é uma joia a ser lapidada, se vai dar
tempo de acontecer isso eu não sei mas é a única categoria verdadeiramente de
marcas no Brasil.
(Djalma Fogaça)
CBA, três letras, inúmeras manifestações,
muitas de insatisfação, mas qual a verdadeira função da Confederação Brasileira
de Automobilismo, seu peso sabemos bem, nos últimos dias foi capaz de congelar
o Campeonato Brasileiro de Formula Truck e tivemos uma clara demonstração de
seu poder, mas e de suas atribuições? Seria ela além de órgão regulamentador
das competições automobilísticas responsável por tirar o automobilismo da
condição pouco animadora em que se encontra e mais seria ela a responsável pelo
automobilismo estar como está? Vejamos como os convidados entendem:
Eu não tenho muita experiência de
causa sobre a CBA e sobre a forma como ela vem tratando o automobilismo no
Brasil, porem a parte que me cabe é opinar sobre aquilo que vivencio nesses 4
anos que tenho buscado apoio como piloto de Kart e agora como piloto da Formula
Inter. Não é só a CBA, na verdade eu como atleta nunca tive nenhum tipo de
apoio de nenhum órgão publico ou privado, nem da minha cidade, nem do estado
muito menos do Governo Federal.
(Raphael Figueiredo)
A gente vai ter um envolvimento
maior da CBA nesta próxima configuração de poder, nos realmente fizemos algumas
coisas, mas acho que da para fazer mais. Eu reconheço e insisto que eu nunca
tive nenhum problema com a CBA seja no comando do Cleyton, tive uma base muito
boa inclusive, através do Rubens Gatti, que apoiou muito a categoria, na
Federação Paranaense, não tenho do que me queixar.
(Thiago Marques)
A presidência da CBA esta mudando
e vamos torcer para que o novo presidente seja um pouco mais dedicado que se
relacione melhor com nossos governantes e brigue por leis que façam com que as indústrias
automotivas voltem a fortalecer o esporte.
(Rafael Lupatini)
Escrevi antes de receber a
matéria da Folha de São Paulo falando sobre o Pinteiro e o gasto de 770 mil com
uma empresa de uma parente dele, portanto, diante de mais essa acusação de
falcatrua, desvio de dinheiro na CBA, quero completar dizendo: “pensei que o
Pinteiro era só incompetente”.
(Eduardo Homem de Melo)
Basta analisar como exemplo
recente, o conflito e queda de braços entre CBA e Formula Truck. Uma historia
de sucesso de duas décadas, sendo questionado por um órgão teoricamente
regulador, que passa a interessar-se por um gigantesco negocio de propriedade
particular, o qual, como tantos, tem o direito de lutar e superar um período de
turbulência nacional que afeta a todos, por motivos políticos/econômicos que
aqui não deveriam tomar espaço.
Obrigatoriamente a CBA deveria
tomar a iniciativa, dar sinal de vida, e criar um canal de comunicação, para
dar inicio a formas conceituais. Acho que com trabalho árduo na busca de lei de
incentivo a patrocinadores, com prestação de contas mensais no site da CBA,
balancetes e metas transparentes, uma luz no fim do túnel devera renascer.
Enfim a CBA precisa parar de falar quanto tem em caixa, não herdar esse
discurso de administrações anteriores, mas sim prestar contas do volume e o
destino destes fundos arrecadados, quer seja através de inscrições de pilotos,
quer seja de outras fontes, que alias precisam urgentemente ser exploradas de
forma imediata
(Oscar Chanoski)
A gente tem agora uma associação
de pilotos, criada pelo Giaffone e teve uma grande aderência e que vem
batalhando justamente pra isso, para que a gente consiga acompanhar melhor as
contas da CBA, criar alguns pacotes de projetos junto ao governo, ter alguns
incentivos na hora de comprar peças, para investir em categoria de base, então
acho que a associação vem para isso, é uma tentativa, um trabalho conjunto, mas
só isso também não vai resolver, é preciso todas as áreas pensarem em prol do
esporte para que a gente passe esta fase.
(Átila Abreu)
Se você chegou até aqui, parabens, você mostra que gosta mesmo de automobilismo. Esta foi uma pequena amostra do que pensam estes personagens que vivem o automobilismo em seu dia a dia, nos proximos dias estaremos postando todos os depoimentos na íntegra, mais ideias, criticas construtivas, desabafos, enfim, acredito que com este primeiro passo, começaremos a realmente discutir o automobilismo.