Opinião Regii Silva:
Antes de mais nada, vamos esclarecer o seguinte, não vou
tratar aqui de suposições ou teorias da conspiração. O pouco que até aqui foi
revelado, já é material suficiente para que se possa entender muito do que, há
tempos, é alvo de conversas de corredor na maior categoria do automobilismo
nacional.
Na tarde de ontem, após o conhecimento do resultado da
investigação da fabricante dos pneus utilizados pela Stock Car, fiz uma
postagem em meu Instagram buscando entender a falta de um comunicado da
Categoria e da própria CBA a respeito. Imediatamente mais de uma dezena de
pessoas ligadas de alguma forma com a Stock Car me procuraram, lembrando até os
bons tempos deste blog que nunca se omitiu em dar luz aos assuntos que sim,
dizem respeito ao público. Pilotos, mecânicos, chefes de equipe e entre eles o
chefe de uma das equipes punidas.
Vamos aos fatos:
Os pneus recolhidos dos carros das equipes TMG e Crown Racing,
dos pilotos Felipe Massa, Rafael Suzuki, Felipe Baptista e Enzo Elias, após a
etapa do Velopark, passaram por uma rigorosa investigação na fábrica da Hankook
na Coreia do Sul. Como resultado, uma diferença gritante de macies na banda de
rodagem dos pneus, cerca de 39% mais moles que os originalmente fabricados pela
Hankook.
Como punição, a CBA retirou os pontos da etapa gaúcha, dos pilotos
e das equipes, mudando com isso a classificação do campeonato, porém, sem emitir
nenhum comunicado oficial. A organização da Stock Car seguiu a mesma linha e
não se pronunciou.
Como o título deste artigo sugere, quanto menor a carga de
informação, maiores as chances de conclusões erradas a respeito. Vou seguir me
atendo aos fatos.
Antecedentes:
É fato que desde a etapa do Velocittá algumas atitudes
estranhas já estavam sendo tomadas por parte dos comissários, com carros sendo
recolhidos ao parque fechado, sem a permissão para descarga de dados por parte
dos engenheiros e até mesmo pilotos tendo de sair sozinhos dos carros sem ajuda
de membros das equipes.
Em BH numa vistoria mais profunda, encontrou-se
irregularidades nos freios do carro #121 de Felipe Baptista da Crown Racing,
causando a desclassificação do piloto na corrida 1.
Irregularidades nos freios, nos remetem a outro caso
semelhante envolvendo a equipe TMG em 2019, quando o então piloto da equipe
patrocinada pela Shell, Ricardo Zonta, foi desclassificado das duas corridas,
na etapa do Velocittá daquele ano por irregularidades nos freios. Naquela
ocasião, recebi da própria CBA a informação de que a demora de mais de um mês para
se chegar a punição, foi causada pela própria equipe que deveria mandar um
representante para participar da vistoria nas pinças de freio e se negaram, a
ponto dos fiscais realizarem a vistoria semanas depois com o uso de câmeras, gravando
todo o processo de vistoria para não serem contestados no futuro. A
irregularidade foi comprovada.
Voltando aos dias atuais, já em outra situação que diz mais
respeito a falta de competência do que propriamente dolo, o carro #19 de Felipe
Massa, foi desclassificado por estar fora do peso, isso no mesmo final de
semana em que os pneus de chuva dos carros das duas equipes foram recolhidos.
Jogo de interesses:
A falta de vontade, tanto da CBA quanto da Organização da
Stock Car em tornar de conhecimento do grande público, as irregularidades
encontradas e comprovadas são até compreensíveis. A entidade máxima reguladora
do automobilismo brasileiro, possui parcerias com o Banco BRB, mesmo
patrocinador que estampa o carro #28 do piloto Enzo Elias, um dos carros da
Crown Racing envolvidos no escândalo dos pneus adulterados. O mesmo Banco BRB também
é patrocinador do evento Stock Car. Outro bom motivo para manter o “Hankookgate”
em sigilo é a própria Petrobrás, patrocinadora do carro #19 de Felipe Massa com
as marcas Lubrax e Podium, e claro, patrocinadora também do evento.
Obviamente não é interessante ter estas marcas ligadas a
nenhum tipo de escândalo, assim como para o próprio Felipe Massa, com a história
que tem no automobilismo mundial, ter seu nome ligado a uma das mais antigas
trapaças do automobilismo, a apelidada “meléca” nos pneus.
Similaridades com o Singapuragate:
Sim existem e vou provar. Primeiro que quando uma equipe
burla os regulamentos, técnicos ou desportivos, a princípio o fazem primeiro
para se beneficiar ou beneficiar algum piloto, ele sabendo ou não (Caso da
Renault F1 em 2008). A intensão pode não ser a de prejudicar as demais equipes ou
pilotos, mas prejudica.
Assim como Felipe Massa, após 15 anos, entende ser seu
direito processar a Formula 1 e a própria FIA, por se sentir prejudicado por
uma “trapaça”. E eu realmente acho isso legitimo. Certamente o próprio Felipe respeitará,
se a partir de agora as demais equipes da Stock Car entenderem ser também seu
direito pedir até mesmo a perda de pontos da Crown e da TMG desde a primeira
etapa do campeonato atual, pois não se pode ter certeza a partir de quando
começaram as irregularidades.
Sinceramente não acredito que Felipe Massa, Rafael Suzuki,
Enzo Elias e Felipe Baptista, tivessem conhecimento das irregularidades. Mas
tanto eu quanto o Felipe Massa, temos que entender a opinião contraria de que
ele sabia, pois, todos ficamos com a sensação de que no Singapuragate, o
espanhol Fernando Alonso também sabia, e disse não saber.
Assim como Flavio Briatore, colecionava antecedentes na
Formula 1, antes de Singapura 2008, pelo menos uma das equipes hoje envolvidas já
foi flagrada fora do regulamento em pelo menos uma vez no passado, e aqui me
refiro a fatos conhecidos. Cabe ao piloto e aos patrocinadores tomar
conhecimento sobre a equipe a qual estão se unindo.
Conclusões:
Está provado, pela própria fabricante dos pneus que houve irregularidades,
se houve dolo ou não, a irregularidade existe, se é de conhecimento dos pilotos
ou não, a irregularidade existe, e é natural que se coloque em suspeição todas
as etapas disputadas por, até aqui, as duas equipes.
Regulamento é regulamento, se uma borracha de vedação num
sistema de freios não é a original, isso pode até não resultar em nenhum ganho
de performance do carro, mas se não é a original, é tão ilegal quanto uma
adulteração num motor. Se por puro descuido, um mecânico usou outro produto
para lavar os pneus, ao invés de água e sabão, é ilegal e ponto.
Que cada um arque com as consequências de seus atos.
Nota:
Em comunicado, a equipe TMG afirma não ter usado nenhum
aditivo ou substancia nos pneus. Mas afirma ter informado a Vicar, Hankook e
CBA o que “teriam feito”. Ou seja, fizeram algo, mas que segundo eles não fere
o regulamento. Na nota, esclarece ainda que os “procedimentos realizados” não
eram de conhecimento dos pilotos, patrocinadores ou terceiros. Traduzindo; não
fizemos nada, mas fizemos alguma coisa.
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